Thursday, June 07, 2007

Ta. Amsterdam. Eh ridicula. Serio. Eh a cidade mais ridicula do mundo. Isso simplesmente porque eh a mais afude, sem dar chance pra nenhuma outra. As pessoas relaxam, frequentam parques, andam de bicicleta, nunca tao com pressa.
Eh uma cidade de pares. Parece que todo mundo ja encontrou o seu para levar ao parque e tomar sol. Nem que seja um bom livro. Ninguem parece precisar de nada, todo mundo parece completo, satisfeito: feliz. E, por mais que os cliches tentem desmentir, um lugar onde a completa felicidade reina eh sim maravilhoso e, nem de longe, chato.
Amsterdam eh a cidade do relaxm, sem maldade, SEM maldade. Nem o red light district tem maldade. E, em Amsterdam, o Flying Pig se mostra ser uma maquete bastante representativa do que a cidade eh. Aqui as pessoas todas se conhecem e comunicam e convivem - sem ter a obrigacao disso, sem silencios consrangedores. Aqui nao ha briga de racas, nacionalidades, times de futebol. Aqui o mundo fora de Amsterdam - a grande - praticamente nao existe, a nao ser pelas tres janelas eletronicas - numa das quais me encontro agora - que nos levam tao longe quanto a bilheteria da estacao de trem ou noticias para a familia. Aposto que, na maioria dos casos, um: "oi. to bem. a cidade eh linda/otima/maravilhosa. To me cuidando sim. Nao queria, mas volto dia ___. Nao, nao vou fazer besteira. Um beijo"

Com tudo do jeito que ta (em porto) nao tenho a menor vontade de voltar. Eu ja tinha muito pouca quando tava em Londres, mas aqui eh outra historia. Aqui da vontade de viver ate os 100 anos, aproveitar a juventude, ter filhos, netos, envelhecer numa bicicleta. Aqui o ar eh puro, respiravel. Aqui as pessoas sao legais, os policiais sorriem, as criancas jogam bola. Aqui todo mundo pratica esporte. Infelizmente, Porto Alegre significa provlemas tanto quanto alegrias. Significa faculdade, mas trabalho; familia, mas solteirice; amigos, mas a falta Dele; festas, mas coracao apertado, respiracao curta. Nesses 6 meses a minha respiracao ficou mais longa. Eu agora inspiro, aproveito o oxigenio e expulso vagarosamente o que nao me serve.

Contudo, de fato, eu volto. Volto pelos meus pais e pelas pessoas que vao notar o meu retorno. Volto por aqueles a quem eu fiz falta, por quem me fez falta, por quem para quem eu faltei. Volto, mas volto!

Proxima: Belfast. Ou algo assim? Espero que algo assim! 19 dias pro despertar. Ah, que sonho bom...

P.s.: Eu nao falei das outras cidades porque: 1) nao deu tempo; 2) tirei muitas fotos; 3) to de saco cheio de escrever no blog; 4) as historias dependem tambem de quem as vai ouvir. Conto tudo, pra quem interessar, na volta.

Sunday, March 25, 2007

In the sky with diamonds

Hoje eu nao acordei. Fui arrancada da sonolencia pela voz tremula e metalizada da minha mae ao telefone me dizendo a pior coisa que eu podia ouvir. Estupidamente, fui jogada de encontro a realidade cruel e fria, a qual eu no podia nem presenciar, nem imaginar.

Estar longe tem dessas coisas. Eu vivo de imagens nebulosas, vozes baixas na memoria, artificiais ao telefone. Sentimentos de 0 e 1 quando eu escrevo “te amo e estou com saudades”; tudo parece tao distante no tempo e perto no coracao.

Se eu pudesse escolher, estaria em lugar-algum agora. Onde eu pudesse acordar de verdade desse pesadelo terrivel que nao me liberta nem quando as minhas lagrimas frias escorrem no rosto vermelho de quem nao sabe nem o motivo do choro. Eu nao consigo acreditar, e nao consigo parar de chorar.

Queria ter amigos aqui, queria estar ai com os amigos, queria abracar… mas, na verdade, o que eu queria mesmo era ouvir a voz do Bruno denovo, dizendo qualquer coisa, mas dizendo. “Muita coisa acontece em seis meses” ele me disse da ultima vez que nos vimos. Queria que fosse mentira.

Assim que a minha mae me disse, chorando, que o meu amado amigo havia partido, so uma coisa me veio a cabeca: lucy in the sky with diamonds. E eu nao consigo tirar essa musica da cabeca desde entao.

O Guaragna ama Beatles. Na minha casa, certa vez, desfilava seu vasto conhecimento sobre a discografia da banda enconto faziamos um dos famosos churrascos da turminha da Cyberfam.

Eu espero que ele tenha chegado la num barco num rio, com arvores de bergamota ao redor sob um ceu de marmelo. Espero que alguem tenha chamado ele, e ele tenha visto vagarosamente, impressionado com a beleza do lugar. Espero que esse alguem seja uma menina com olhos de caleidoscopio capaz de ajuda-lo a ver o colorido de la e daqui.

Espero que ele encontre flores de papel celofane amarelas e verdes, pontes, fonts, taxis de jornal, retratos de pessoas vestidas em glass ties.

O Bruno levou consigo uma parte de nos. Me fez diferente, muito diferente, e vai continuar me fazendo diferente a cada dia que eu lembrar dos momentos que passamos. No Runo sempre vai faltar alguem pra por o capacete do pai, pra falar mal das musicas que eu ouco, da minha mania de discutir com os motoristas ao redor, pra me ensinar mil vezes o caminho para a Lagoinha, para dizer tchau e nao baixar o pino da porta.

If I could stay, then the night would give you up… stay, then the day would keep its trust. Stay, then the night would be enough.

Faraway, so close. Infelizmente, com satellite television you can’t go anywhere. A minha musica favorita da banda que o Bruno nem gosta tanto assim.

And if you listen, I can’t call. And if you jump, you just might fall, and if you shout I’ll only hear you.

Nao foi o bastante. Nunca eh. Ainda espero que tu estejas no aerporto quando eu chegar. Eu nao consegui te dizer, espero que tu ouca: te amo. Nunca vou esquecer de nada.

In the sky with diamonds, sao tres da manha. Um silencio e nao tem ninguem por perto. So um estrondo e um sino.. como se um anjo caisse no chao.

Tuesday, March 13, 2007

Senao bombas, rebocos mal feitos: alguma coisa tem que cair!

Na University of Westminster, onde eu estudo, existe uma disciplina chamada “Broadcasting e sociedade no seculo 20”. Dentro dela, estudamos o que o titulo sugere, obviamente. Pois dia desses, no periodo entre guerras, me perdi na aula imaginando que horror que devia ser ouvir aqueles alarmes anti-aereos e pensar que, a qualquer momento, poderia ser em cima de voce que a bomba iria cair.

Alarmes continuam sendo bem comuns em Londres. Alias, alarmes, sirenes, apitos, zunidos, estrondos… os suditos da Dona Elizabeth adoram um barulho. Avisos sonorous entao tem para tudo. O sinal abre para pedestres, um sinal toca; alguem esqueceu uma mala em algum lugar, sirene de policia; a porta do tube vai fechar, eh aquele “piiiiiiiiiiiiiiii”. “Por favor, mantenha os seus pretences sempre com voce. Ao ver uma bagagem sozinha, avise imediatamente um membro da equipe (do Underground)” eu ouco de cinco em cinco minutos nas estacoes de metro. Tudo muito irritante. Nao eh a toa que os londrinos sao a populacao com maior numero de ipods por habitante. Ta, eu nao sei se isso eh verdade, mas, se nao sao, estao “bloody close”.

Em compensacao, quando a gente precisa mesmo de um alarme, eles nao existem – precisamos contar com a sorte. Ou alguem por acaso ja viu aviso quando homens cafajestes se aproximam? Ja pensou que maravilha? O cara chega perto, um apito comeca e uma voz diz “mind the crap”. Quando a gente vai fazer um mal negocio tambem, seria otimo ouvir um sinal que nos alertasse a bobagem que esta por ser executada.

Infelizmente, existem situacoes que a gente nao consegue evitar. Algo pode ser bom por um tempo e depois simplesmente virar o proprio inferno.

Alugar uma casa em Londres, por exemplo, pode parecer um negocio da China. Contudo, muito cuidado: as residencies londrinas sao do tempo que a rainha ainda usava fraldas (da primeira vez!). Por exemplo: a casa que os meus housemates alugaram um ano atras parecia um baita negocio na epoca. Ontem, o teto desabou no meio da cozinha. Sim! E, segundo a minha pesquisa de campo, isso eh supernormal por aqui.

Entao eu pensei: “claro, Fernanda. Tu escapou das bombas, mas, com todo esse alarde feito diariamente, alguma coisa tinha que cair”. Estou esperando pela minha ficha ainda – quase tres meses em terras britanicas. Bloody hell!

Da serie "sempre lembrando e nunca esquecendo" que a Dami, housemate e nova amiga leytonstonesa, tinha passado 5 horas fazendo faxina pesada em casa - inclusive na cozinha - e, justo quando ela parou de faxinar, tomou banho e jantou, eis que 5 quilos de terra e cimento velhos desabam no meio da casa. "oh nao!", foi o que ela exclamou. Educada, nao?

Friday, March 02, 2007

Clap your high heels and say... yeah?

Ela era tao feliz na sua fazenda. Vivia com os tios, mas quem se importa? Tinha um cachorro bem bonitinho e tres amigos divertidos e atenciosos. Nao que ela nao gostasse nda vida na fazenda, mas, como todo ser que respire pra viver, sonhava com algo diferente. Pois bem! Primeiro furacao oportuno; casa voando e la foi ela, em busca de que? Nem ela.

Um belo dia a casa cai (ne?) e ela se ve rodeada de um monte de gente a tratando bem, so pleased to see her. E eh todo mundo assim mesmo, muito legal, nao por nada, mas porque ela matou aquilo que os matava. Isso lhe rendeu um par de sapatos vermelhos bacaninhas, super in, apesar de contrariarem a tendencia black-anorexic-posh-emo do momento. Logicamente, coisas dao errado e ela, dividida entre a felicidade de finalmente conhecer o novo e a nostalgia de nao ver mais o antigo resolveu que queria explorar aquele lugar mas logo voltar pra casa.

‘Follow the yellow brick road and ask for the Wiz*’, she said.

No caminho, como todo mundo, encontrou um cara sem-cerebro (so um? Quanta sorte!), outro sem coracao (ui) e um terceiro sem coragem (homens do seculo 21…). Os tres, porque nao aguentavam mais viver com a mae e serem sustentados pelo pai, foram com ela pela estradinha dos tijolos cor-de-submarino atras daquilo que faltava a eles.

Depois de enfrentar muitos perigos, os cinco chegaram ao misterioso Wiz* onde conseguiram o que queriam. Na verdade, nao ganharam coracao, cerebro, coragem ou passagem de volta pro Kansas, mas sim, a ilusao de receber todas essas coisas, o que eh muito melhor, nao acham?! (just like a tv show). Todos ficaram superfelizes: o cara que agora tinha cerebro e podia, finalmente, pensar em mulher, cerveja, carro e futebol; o que ganhou um coracao e tinha agora arterias para entupir com lanches do Mc Donalds; o terceiro que, com coragem, podia olhar pra cara das mulheres e dizer “nao, eu nao vou te ligar amanha” e, finalmente, a nossa heroina que, como toda mulher moderna, conseguiu tudo o que queria batendo saltos por ai.

Personal update: cheia de trabalho da faculdade; gripe absurda (bloody weather); quebradiiiissima de dinheiro; absurdamente desempregada; nenhuma nocao de data de retorno – feliz da vida! Louca? Eh assim que eu gosto :)

Friday, February 16, 2007

Piada

Ou

The worst and best day ever.

Ta, essa ninguem pode dizer que conhece:

Tinha uma norueguesa, uma kosovena e uma brasileira em Londres. As tres estudavam midia na universidade e tavam fazendo um DVD sobre uma banda. Pois bem. Um belo dia elas precisavam ir pra Brighton, uma praia a 2h de Londres, pra entrevistar a banda, ja que os caras eram de la.

Entao a norueguesa foi a um bar na noite anterior e foi dormir por volta das 2h da manha. Acordou cedo e foi para a universidade encontrar as amigas;

A Kosovena estaria de aniversario no dia da viagem, por isso, saiu na noite anterior para festejar com os amigos. Voltou para casa bebada e cansada as 6h da manha, mas acordou as 7h30 pra ir a universidade encontrar as amigas;

A brasileira nao saiu para beber, acordou cedo e foi fazer a entrevista para retirar o seu insurance number. Quase no final, quando dava tudo certo, foi chamada porque seu contrato de emprego nao estava assinado e, ingenuamente, prometeu “te mando por fax hoje mesmo”.

10h – A brasileira ligou pra o seu chefe para pedir o contrato por fax. O chefe italiano gritou com a brasileira no telefone, disse “onde eh que ja se viu me ligar pra pedir isso” e coisas assim… tudo em italo-britanico, eh claro. Assim, a brasileira atordoada com o telefonema, se perdeu em Mile End, chorando e pensando “ai que merda eu quero voltar pra minha cidade agora!”

Ao mesmo tempo, a kosovena e a norueguesa recolhiam os 40kg de equipamentos (2 cameras, luz, tripe, som…) necessaries para a viagem.

11h30 – a brasileira chega a universidade, ajuda a carregar os equipamentos e toda vao felizes e com dores rumo a rodoviaria. Por sorte (ou nao, como veremos a seguir), uma senhora muito simpatico segura a porta do trem o que permite a entrada das tres mocas. Uma hora, 3 trocas de linha e 10 minutos correndo pela rua com 40kg de equipamento depois, em cima da hora de pegar o onibus, elas chegam na rodoviaria. Enquanto a kosovena via as passagens, as outras duas esperavam com o equipamento em frente ao portao de embarque. Quando, de repente, a kosovena aparece e diz: estacao errada.

13h – As tres correm mais 5 minutos ate a outra estacao e descobrem que o onibus ja partiu. Ao que o responsavel pela companhia (polones) diz: mas voces esperem ai que eu ja aviso quando vem o proximo, deve ser daqui uns 20 minutos. Elas esperaram sentadas ate as 13h40 quando o polones veio e disse “o proximo onibus so sai as 20h”.

13h50 – Desesperadas, a norueguesa, a kosovena e a brasileira correm 5 minutos com 40 kg de equipamento ate a outra estacao para ver se conseguem outro onibus. A Kosovena para na fila para comprar a passagem enquanto a norueguesa e a brasileira esperam no portao de embarque. Quando a brasileira percebe que o onibus vai partir, ela liga para a kosovena e diz a frase do dia: “vem depressa antes que o onibus… the bus is gone”.

14h05 – passagem nova, para as 15h, na mao, as tres mocas aguardam na frente do portao de embarque tomando o mochaccino mais doce de todos os tempos (eca!).

15h – Finalmente elas pegam o onibus pra Brighton!

17h30 - Duas horas de uma viagem entre muito sono e terriveis enjoos (pobre Siwa) depois, elas chegam na praia. Brighton pode ser muito bonita mesmo, principalmente ao anoitecer. Cheiro de mar. Elas pegam um taxi e vao ao “Pressure Point”, pub onde seria feita a entrevista com os caras da banda.

Luz certa, camera certa, som terrivel. Um pub nao eh exatamente o lugar para se gravar uma entrevista – principalmente quando a sua produtora (kosovena que mora em Londres ha 9 anos) nao tem coragem de pedir pros caras calarem a boca um pouquinho e quem tem que fazer isso eh voce (brasileira – 1 mes e meio). Banda sem voltade, respostas ridiculas. O produtor dos caras: nem ai, tava bebendo.

Ressalva: o DVD eh para a banda vender, nada a ver com a gente. Pode isso?

Pois vamos para as entrevistas individuais. Luz otima, camera otima, microfone de lapela (som otimo)… e os caras da banda: ainda sem vontade. Respostas ridiculas, mas, ao menos, respostas. O baixista (o mais pia, 19 anos, inglezinho ridiculo) se negou a responder, nao teve jeito. A brasileira xingou de tudo o que podia em ingles (falta de profissionalismo, respeito, vontade, talento…) e do que nao podia em portugues (fiadaspu…).

Depois do fracasso que foi a entrevista, as tres estudantes foram jantar. O salmao estava otimo (ao menos isso) e, depois disso, gravar o show da maldita banda. Os ingleses-arrogantes-ridiculos-estrelas, ainda fizeram o favor de desrespeitar as pobres mocas, fazendo piadinhas ridiculas sobre as entrevistas o que as fez ir embora procurer um hotel.

23h30 – elas chamam um taxi e pedem “por gentileza, o bed and breakfast mais barato da cidade?”. O taxista nao conhece nenhum. Larga as mocas em frente a um predio de flats que estava, obviamente, fechado.

Trinta minutos caminhando perdidas em Brighton com 40kg de equipamento depois, elas encontram um hotel (muito caro) onde pegam um mapa da cidade. Mais 20 minutos (…) e acham um local que cobra mais barato, desde que elas aceitem trabalhar na producao do commercial do pub (mesmo dono) em outra ocasiao.

Banho, agua, cama, conversas sobre piercings, culturas, sinais divinos, homens, viagens que fizemos, que faremos. Acabou. Na tela do ipod da norueguesa, a maior piada do dia “We have a winner!”. The bus is soooooooooo gone…

p.s.: fotos em breve

Sunday, February 04, 2007

Coisas que quase renderam um post, mas…

Ah, eu vivo querendo escrever mas tenho tido cada vez menos e menos tempo pra de fato faze-lo. Entao ai vao varias coisas que quase viraram um post, mas…

Perdendo dentes

Pra variar vou usar o blog para dar noticias, coisa que eu menos tenho feito nos ultimos dias. Para quem ainda nao sabe, eu estou fazendo ums cadeiras na faculdade de Midia, Arte e Design da University of Westminster.

As duas cadeiras teoricas, broadcasting no seculo 20 e midia europeia tem me ajudado muito a entender esses fenomenos da sociedade de massa, como a midia se modifica e tal.. Do gostando (e lendo) muito.

As cadeiras praticas sao Producao em Multicamera (que eu estou fazendo ate marco) e Producao em Documentario (de marco a maio). Nessa de producao em multicamera, um grupo foi separado da classe para produzir um DVD pra uma banda de rock do selo da universidade. A banda chama-se Kingsomniac (http://kingsomniac.co.uk) e eh beeeem legal. Fiquei muito feliz quando me escolheram para fazer parte desse grupo. Eu sou a editora do live gig, autora do DVD e diretora/editora do documentario sobre a banda. Estou amando. Imaginem que tem uma HDCAM e um PBG4 17” no meu quarto, porque a universidade me emprestou! Estou muito feliz de poder estar fazendo essas coisas, sabem? Eh otimo ver o trabalho reconhecido e tudo isso acontecendo.

Fora isso, quase nao ha tempo para mais nada. O documentario me sugou quase todas as minhas horas livres, o que eh otimo, mas tambem cansa bastante. Essa vida tambem me sugou muitas certezas, to confuse, nao sei mais o que fazer aqui, ali (ai), ou em qualquer lugar. Isso eh otimo.

You say you want

A diamond on a ring of gold… treasures just to look upon it. your story to remain untold… but all the promises we break from the cradle to the grave.

Eu ja nem sei mais que que eu quero… difiiiiiiiicil… Tenho pensado muito nisso ultimamente. Demais. Too much. Entao vou nao-pensar.

Verdades e mentiras

Esses dias, em uma viagem de tube, fiquei pensando nas verdades e mentiras mais obvias do universo. Misturadas, abaixo.

“David Letterman? Nunca ouvi falar” Jo Soares

“Eu nao negocio com bandido” Gugu Liberato

“Eu emagreci porque perdi o direito a cachacinha no churras do PT” Palocci

“Meu sonho era casar virgem” Daniela Cicarelli

“Meu sonho era casar virgem, acho que consigo” Daniela Cicarelli

“Eu gasto 50% do meu orcamento em gel para o cabelo” Dinho Ouropreto

“Viu?Eu nem roubei nada” politico brasileiro

“Acabei de voltar de um restaurante indiano maravilhoso, tem que ir!” Jade, CBB C4

“Se tem uma coisa que eu nao suporto eh crianca” Michael Jackson

“Eis minha nova aquisicao: uma crianca faminta da Africa… vai combiner direitinho com o sofa da Maria” Madonna

“Vem, taradinha, vem…” Marques Leonam

As nossas noites do norte

Tem coisas que so acontecem nas noites aqui nas proximidades de Greenwich

Voltar para casa bebada num onibus vermelho as 5.30 da manha, olhando a oxford st pela janela e ouvindo “windows in the skies” na Virgin… Ah que maravilha.

Jubilee line. 00.30am.

Siwa: - To descendo, tchau!

Tina, Fernanda e Sarah: - Tchau!

(indianoestranho sorri)

Sarah: - Tchau, gurias, ate segunda… foi muito legal hoje.

Tina e Fernanda: - Tchau! Ate…

(indianoestranho sorri)

Tina: - Tu vai descer em Leytonstone ne?

Fernanda: – Sim, mas eu tenho que descer em Bond St e pegar a Central Line pra isso…

Tina: eu tenho que pegar a Northen… eh essa. Tchau!

Fernanda: - Tchau!

(indianoestranho sorri)

Bond Street Station. Mala enorme com camera dentro. Botas, vestido, duas pints. Indiano estranho segue.

Indianoestranho: – Ta muito pesado isso ai?

Fernanda: – Nao, obrigada.

Consciencia de Fernanda: – AimeuDeus,fodeu,elevairoubar tudoeagoratofritavouterquepagartudoehmuitocaro essacameratambem…


Central line. Troca de vagao na ultima hora, nao adianta.

Indianoestranho: - Voce vai descer em Leytonstone ne?

Fernanda: - (hesitacao) Sim…E tu?

Indianoestranho: - Mile End.

Consciencia de Fernanda: - Claro,eleouviuaTinafalandoqueinfernoagorafodeuelevai meroubarmesmoissoquequeeufaco…

Indianoestranho: - Ha quanto tempo voce esta em Londres?

Fernanda: - (hesitacao) Um mes…

Consciencia de Fernanda: - ai

Indianoestranho: - Voce eh solteira?

Fernanda: - (grande hesitacao) Nao. Eu moro com o meu namorado.

Consciencia de Fernanda: - Ufa,eletamecantando...menosmalquenaoehacamera…

Indianoestranho: - Mas tu namora com ele faz um mes?

Fernanda: - (sem hesitacao) Nao… a gente namora ha 4 anos… ele veio estudar na universidade como eu, estamos morando juntos…

Consciencia de Fernanda: - Eudeveriaescreveressascoisas…

Voz britanica do Tube: - This is Mile End. Change here for the District and Hammmersmith and City Lines.

Consciencia de Fernanda: - Elevaiembora,ufa.

Indianoestranho: - E quando a gente se ve denovo?

Consciencia de Fernanda: - Indianocara-de-pau!

Fernanda: - (tom de sarcasmo) Sei la, essa cidade eh tao grande.

Consciencia de Fernanda: - Boua.

Indianoestranho: - Voce eh muito bonita, boa noite.

Consciencia de Fernanda: - AiquevergonhachegalogoLeytonstone,chegalogo…

Mais cedo: Vestido marrom frente-unica. Pub chamado Nambucca. Show da Kingsomniac. Trabalhando.

Fernanda: - Entao, Tina, a gente tem que ir la e gravar…

Inglesbebadoidiotacomotodososoutrosnopub: - (olha para a linha logo abaixo do meu pescoco) Bloody hell!

Consciencia de Fernanda: - Ahqueinferno.

Fernanda: - Ah que inferno.

Tina: - (muitas gargalhadas) Viu so?

Fernanda: - Maldita familia italiana.

Tina: - Como eu queria ter essa familia italiana.

Consciencia de Fernanda: - Affff

Tuesday, January 30, 2007

Oi mae...
Eu tava jantando... por issonao te atendi antes. DEsculpa...

ooooooo mae... como eh dificil crescer... principalmente longe de
voces. Como eh dificil...eu acordei meio doentinha...
mesmo assim tinha tanta coisa pra fazer... arrumei meu quarto (que
tava uma bagunca!!!), fui ate o supermercado comprar um frango e umas
batatas e voltei pra fazer uma sopinha... Me ligaram 150 vezes da
faculdade pra fazer umas coisas pro DVD esse e eu tive que comer
correndo e sair correndo... me queimei toda a boca, comi quase nada,
foi terrivel... sai correndo e fui lendo a materia que eu tneho que
apresentar na aula segunda e to morrendo de medo de nao conseguir
porque eh bastante coisa... Levei uma hora de metro, cheguei la, deu
tudo errado, me incomodei horrores, voltei pra casa, esquentei a sopa
e comi denovo. Percebi que eu fiz muita sopa (eu nao sei cozinhar so
pra mim), o que quer dizer que tem pra mais umas 3 pessoas
tranquilamente. Queria tanto que fossem voces tres. O alex
provavelmente nao fosse gostar, ia reclamar que nao tem gosto de nada
e que eu cozinhei demais o arroz e definitivamente nao sei comprar
frango... O pai ia dizer que tava bom, mas ia comer um prato so e se
entupir de pai porque, na verdade, ele nem achou bom, so comeu pra me
agradar. Tu ia comer tudo. Ia adorar, dizer que tava otima e que
"agora ja pode casar" depois se desculpar e dizer "to brincando,
filha, nao fica braba".
Eu disse pra um amigo hoje (no msn, claro, eh muito dificil ter amigos
aqui) que fazer a propria sopa de doente era um sintoma de
crescimento. Uma outra amiga diria "eh, fecris, crescer rapido demais
da estria". Sao as minahs estrias que doem tanto.

Provavelmente, mae, eu tenha crescido mais nos ultimos 30 dias que nos
outros 20 anos e meio. Eh um absurdo cliche dizer isso, mas eh
verdade. Mente quem diz que a gente cresce quando se forma, casa, tem
filhos. Sao as pequenas coisas do cotidiano que nos fazem quem a gente
eh e foi a mudanca tao rapida desse cotidiano que baixou um pouco mais
a linha externa dos meus olhos no ultimo mes.

Os sinais do tempo nao estao na minha pele (eu so tenho vinte anos),
mas nas minhas maos secas do clima frio cujo cheiro varia entre cebola
e sabao de louca (com cedilha, por enquanto), estao no meu cabelo
sobre o qual eu nao tenho mais conseguido reclamar diante do espelho.
Que espelho? Estao nas minhas roupas ja largas que, por mais que eu
estique bem, nunca ficam boas como passadas a ferro. Estao nas
lagrimas que caem a cada viagem de volta de metro, quando eu, apesar
de insistir em tentar, nao consigopensar "ufa, estou indo pra casa".

Ele eh tao cruel, o tempo. Passa depressa demais quando a gente
aproveita, devagar demais quando doi. Isso me deixa numa situacao
muito estranha, porque, ao mesmo tempo que eu vou pra faculdade
pensando "meu deus, foi ontem que eu cheguei nesse pais e ja faz um
mes! ta passando muito rapido!" eu volto para leytonstone pensando
"mais cinco... como eu queria ver aquele uno branco com o simbolo
vermelho na frente de casa denovo". Hoje ainda, pensando no meu
passaporte que eu preciso levar pra entrevista pro insurance number e
lembrei da funcionaria no balcao da Iberia em Madrid dizendo "acho que
tu nao vai conseguir entrar na Inglaterra. Cade teu visto?". Lembrei
que na hora eu quase enlouqueci, fiquei com medo de nao entrar mesmo.
Parece que foi ontem e ja faz tantos dias...

Faz parte da vida crescer. Bem como faz parte da vida descobrir que o
quarto nao se arruma sozinho, o supermercado ainda nao entrega o que a
gente precisa em casa, a lampada queimada do banheiro nao vai se
trocar sozinha, ninguem vai ter feito suco de laranja quando eu
acordar amanha de manha... alias, eu vou acordar amanha de manha com o
doce "bip bip" do meu celular. Se eu nao for dormir, ninguem vai dar
bola. Se eu nao comer, ninguem vai perguntar se eu to com fome. Se eu
nao for pra faculdade, ninguem vai dizer "vai folgar hoje? o
moleza...".

Que coisa mais maluca eh a vida. Tudo isso e eu estou muito feliz.
Cada refeicao que da certo, cada pound economizado, cada frase bem
formulada em ingles, cada roupa bem lavada... Todas as pequenas
vitorias diarias de quem tinha absolutamente tudo nas maos e agora tem
que aprender a pegar tudo por si, essas pequenas coisas me fazem muito
feliz. Fazem com que eu entenda que eu vim muito mais que aprender
sobre jornalismo, vim aprender sobre( )viver. E por mais idiota que
pareca, eh verdade.

As coisas maravilhosas que estao acontecendo na faculdade. Como eh bom
poder dizer "fui eu, sozinha que consegui". Aqui ninguem pode me jogar
na cara "as pessoas gostam de ti, por isso tu consegue o que tu quer".
Aqui ninguem nem me conhece e, pra maioria, eu sou a brasileira com
cara de idiota que fala devagar e ta sempre tomando cafe sozinha num
canto. ERA. Estamos na terceira semana de aula e eu ja sou a que todo
mundo ouve na aula de Broadcasting, a que traz sempre acrescenta algo
na aula de European Media e a editora/diretora na aula de producao em
multicamera. SOU EU. Isso me faz feliz nao porque eu precise ser a
melhor, mas porque eu acredito nisso.

Fiz novos amigos. Amigos. Essa palavra eh dificil de dizer, quando eu
digo penso em todo mundo que eu deixei ai, esses sim, amigos. Contudo,
tenho "quase amigos" aqui e eles me fazem muito feliz nos meus dias
tristes. O Caco, sempre fazendo piadas absurdas ou debatendo assuntos
seriiiiiissimos sobre
politica/economia/globalizacao
/esporte/culinaria/cinema/transporte/seriados
americanos... qualquer coisa dentro desse ou de outros mundos. A Ju e
o Diego, com os quais eu encontro sempre em horarios bizarros, antes
ou depois de dormir... mas que sempre me fazem rir com o jeito tao
absolutamente tranquilo e divertido de ver as coisas. Sao os melhores
companheiros para ver uma final de Celebrity Big Brother com certeza
hehe.
Alem deles, tem o pessoal que nao mora aqui em casa. Por incrivel que
pareca eu ate consegui fazer amigos (ou quase amigos) sozinha. A Esti,
a espanhola, apesar de ter sido apresentada pelo Caco e pelo
Guilherme, eh otima, sempre com assuntos interessantes e rindo de
quase tudo. A Minna, finlandesa, que, segundo a Kika parece muito com
a Analu, eh com quem eu mais saio pra fazer qualquer coisa. Ela ta
sempre disposta pra tudo e vem de uma familia muito parecida com a
nossa... ela eh muito parecida comigo em alugmas coisas, em outras
completamente diferente.. .como as pessoas com quem se quer estar. Na
faculdade, eu tenho andado muito com o pessoal que vai fazer o DVD
comigo. Desses, a maisproxima eh a Kaltrina. Nascida no Kosovo, morou
n Libia por 8 anos e agora mora aqui ha 8, ta sempre falando dos
amigos e da familia e do namorado e de muitas coisas. Eh basicamente
com essas pessoas que eu passo o tempo. Nao muito tempo, porque, a
maior parte dele, passo sozinha. O que tem sido bem interessante, pra
ser sincera. Ja me suporto ha tempos, to passando a realmente gostar
de estar em minha companhia.

Como tu ressaltou, eu realmente nao gosto da Martha Medeiros (na
verdade eu ODEIO ela... mas tu, sempre doce, amenzou um pouquinho).
Contudo, quando eu li o "Embarquei minha filha" ja comecei a chorar
desesperadamente. Isso porque eu fiquei imaginando a tua situacao ai.
Como tu es corajosa, mae. Embarcar a tua filha pra um lugar onde tu
nunca esteve, pra fazer uma coisa que, por mais que tu tente, nunca
vai entender, pra viver uma vida que ninguem nunca a ensinou a viver.
Eu tenho orgulho de ti.

Por causa desse orgulho que eu sacudo a manta na rua todos os dias.
Porque eu sei que ai em casa tem gente muito feliz com o que eu to
aprendendo aqui. Porque eu sei quanto sacrificio todas essas
experiencias maravilhosas que eu to vivendo custa pra voces. Porque eu
sei que as minhas lagrimas e saudades logo serao curadas e que o que
vai sobrar eh tudo isso, tudo o que voces me deixaram viver quando me
embarcaram naquele aviao.

O que eu mais queria agora era poder sair do quarto, atravessar
aquelas duas portas de maderia escura, o pequeno corredor e me atirar
na cama de voces novamente. Mas eu sei que em 5 meses (4 meses e 26
dias) eu vou poder fazer isso denovo. O que eu nao vou poder fazer
denovo eh aprender a fazer a a minha propria canja, a enjoar do cheiro
de cebola nas maos, a lavar a propria roupa, a poupar os pounds pro
aluguel...

Sobre o titulo desse email que tu me mandou, "saudades", eu digo pra
voces fazerem o que eu tenho feito: respirem fundo, levantem a cabeca
e nao contem o tempo por segundos, minutos e horas, mas sim, por
aprendizados, tropecos e desafios superados. Parece muito mais longo,
mas passa tao mais rapido.

Um pouco antes de vir, lembra que eu fui naquele show do Los Hermanos?
Teve uma musica que me fez chorar muito e ela diz assim (eu botei em
prosa agora):

"Já vou, será? Eu quero ver o mundo, eu sei, não é esse lá. Por onde
andar? Eu começo por onde a estrada vai...E nao culpo a cidade, o pai:
vou lá, andar. E o que eu vou ver? Eu sei lá. Não faz disso esse drama
essa dor! Eh que a sorte é preciso tirar pra ter. Perigo é eu me
esconder em você. E quando eu vou voltar, quem vai saber? Se alguem
numa curva me convidar, eu vou lá, que andar é reconhecer, olhar. Eu
preciso andar um caminho só. Vou buscar alguém que eu nem sei quem
sou. Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você.
Guarde um sonho bom pra mim. Eu preciso andar um caminho só. Vou
buscar alguém que eu nem sei quem sou."

Pra terminar esse e-mail, eu escolho outra musica do Los Hermanos,
essa chamada "Dois Barcos".

"Quando bater primeira dobra do mar da de la bandeira qualquer, aponta
pra fe e rema."

Amo voces. Eu vejo o que deixei ao partir em breve. Voces veem o que
deixaram levar... nunca mais. Mas isso eh bom, quando eu voltar, o
"eu" que voltar vai valer as lagrimas que tu derruba agora. Obrigada.

Fe