Tuesday, January 30, 2007

Oi mae...
Eu tava jantando... por issonao te atendi antes. DEsculpa...

ooooooo mae... como eh dificil crescer... principalmente longe de
voces. Como eh dificil...eu acordei meio doentinha...
mesmo assim tinha tanta coisa pra fazer... arrumei meu quarto (que
tava uma bagunca!!!), fui ate o supermercado comprar um frango e umas
batatas e voltei pra fazer uma sopinha... Me ligaram 150 vezes da
faculdade pra fazer umas coisas pro DVD esse e eu tive que comer
correndo e sair correndo... me queimei toda a boca, comi quase nada,
foi terrivel... sai correndo e fui lendo a materia que eu tneho que
apresentar na aula segunda e to morrendo de medo de nao conseguir
porque eh bastante coisa... Levei uma hora de metro, cheguei la, deu
tudo errado, me incomodei horrores, voltei pra casa, esquentei a sopa
e comi denovo. Percebi que eu fiz muita sopa (eu nao sei cozinhar so
pra mim), o que quer dizer que tem pra mais umas 3 pessoas
tranquilamente. Queria tanto que fossem voces tres. O alex
provavelmente nao fosse gostar, ia reclamar que nao tem gosto de nada
e que eu cozinhei demais o arroz e definitivamente nao sei comprar
frango... O pai ia dizer que tava bom, mas ia comer um prato so e se
entupir de pai porque, na verdade, ele nem achou bom, so comeu pra me
agradar. Tu ia comer tudo. Ia adorar, dizer que tava otima e que
"agora ja pode casar" depois se desculpar e dizer "to brincando,
filha, nao fica braba".
Eu disse pra um amigo hoje (no msn, claro, eh muito dificil ter amigos
aqui) que fazer a propria sopa de doente era um sintoma de
crescimento. Uma outra amiga diria "eh, fecris, crescer rapido demais
da estria". Sao as minahs estrias que doem tanto.

Provavelmente, mae, eu tenha crescido mais nos ultimos 30 dias que nos
outros 20 anos e meio. Eh um absurdo cliche dizer isso, mas eh
verdade. Mente quem diz que a gente cresce quando se forma, casa, tem
filhos. Sao as pequenas coisas do cotidiano que nos fazem quem a gente
eh e foi a mudanca tao rapida desse cotidiano que baixou um pouco mais
a linha externa dos meus olhos no ultimo mes.

Os sinais do tempo nao estao na minha pele (eu so tenho vinte anos),
mas nas minhas maos secas do clima frio cujo cheiro varia entre cebola
e sabao de louca (com cedilha, por enquanto), estao no meu cabelo
sobre o qual eu nao tenho mais conseguido reclamar diante do espelho.
Que espelho? Estao nas minhas roupas ja largas que, por mais que eu
estique bem, nunca ficam boas como passadas a ferro. Estao nas
lagrimas que caem a cada viagem de volta de metro, quando eu, apesar
de insistir em tentar, nao consigopensar "ufa, estou indo pra casa".

Ele eh tao cruel, o tempo. Passa depressa demais quando a gente
aproveita, devagar demais quando doi. Isso me deixa numa situacao
muito estranha, porque, ao mesmo tempo que eu vou pra faculdade
pensando "meu deus, foi ontem que eu cheguei nesse pais e ja faz um
mes! ta passando muito rapido!" eu volto para leytonstone pensando
"mais cinco... como eu queria ver aquele uno branco com o simbolo
vermelho na frente de casa denovo". Hoje ainda, pensando no meu
passaporte que eu preciso levar pra entrevista pro insurance number e
lembrei da funcionaria no balcao da Iberia em Madrid dizendo "acho que
tu nao vai conseguir entrar na Inglaterra. Cade teu visto?". Lembrei
que na hora eu quase enlouqueci, fiquei com medo de nao entrar mesmo.
Parece que foi ontem e ja faz tantos dias...

Faz parte da vida crescer. Bem como faz parte da vida descobrir que o
quarto nao se arruma sozinho, o supermercado ainda nao entrega o que a
gente precisa em casa, a lampada queimada do banheiro nao vai se
trocar sozinha, ninguem vai ter feito suco de laranja quando eu
acordar amanha de manha... alias, eu vou acordar amanha de manha com o
doce "bip bip" do meu celular. Se eu nao for dormir, ninguem vai dar
bola. Se eu nao comer, ninguem vai perguntar se eu to com fome. Se eu
nao for pra faculdade, ninguem vai dizer "vai folgar hoje? o
moleza...".

Que coisa mais maluca eh a vida. Tudo isso e eu estou muito feliz.
Cada refeicao que da certo, cada pound economizado, cada frase bem
formulada em ingles, cada roupa bem lavada... Todas as pequenas
vitorias diarias de quem tinha absolutamente tudo nas maos e agora tem
que aprender a pegar tudo por si, essas pequenas coisas me fazem muito
feliz. Fazem com que eu entenda que eu vim muito mais que aprender
sobre jornalismo, vim aprender sobre( )viver. E por mais idiota que
pareca, eh verdade.

As coisas maravilhosas que estao acontecendo na faculdade. Como eh bom
poder dizer "fui eu, sozinha que consegui". Aqui ninguem pode me jogar
na cara "as pessoas gostam de ti, por isso tu consegue o que tu quer".
Aqui ninguem nem me conhece e, pra maioria, eu sou a brasileira com
cara de idiota que fala devagar e ta sempre tomando cafe sozinha num
canto. ERA. Estamos na terceira semana de aula e eu ja sou a que todo
mundo ouve na aula de Broadcasting, a que traz sempre acrescenta algo
na aula de European Media e a editora/diretora na aula de producao em
multicamera. SOU EU. Isso me faz feliz nao porque eu precise ser a
melhor, mas porque eu acredito nisso.

Fiz novos amigos. Amigos. Essa palavra eh dificil de dizer, quando eu
digo penso em todo mundo que eu deixei ai, esses sim, amigos. Contudo,
tenho "quase amigos" aqui e eles me fazem muito feliz nos meus dias
tristes. O Caco, sempre fazendo piadas absurdas ou debatendo assuntos
seriiiiiissimos sobre
politica/economia/globalizacao
/esporte/culinaria/cinema/transporte/seriados
americanos... qualquer coisa dentro desse ou de outros mundos. A Ju e
o Diego, com os quais eu encontro sempre em horarios bizarros, antes
ou depois de dormir... mas que sempre me fazem rir com o jeito tao
absolutamente tranquilo e divertido de ver as coisas. Sao os melhores
companheiros para ver uma final de Celebrity Big Brother com certeza
hehe.
Alem deles, tem o pessoal que nao mora aqui em casa. Por incrivel que
pareca eu ate consegui fazer amigos (ou quase amigos) sozinha. A Esti,
a espanhola, apesar de ter sido apresentada pelo Caco e pelo
Guilherme, eh otima, sempre com assuntos interessantes e rindo de
quase tudo. A Minna, finlandesa, que, segundo a Kika parece muito com
a Analu, eh com quem eu mais saio pra fazer qualquer coisa. Ela ta
sempre disposta pra tudo e vem de uma familia muito parecida com a
nossa... ela eh muito parecida comigo em alugmas coisas, em outras
completamente diferente.. .como as pessoas com quem se quer estar. Na
faculdade, eu tenho andado muito com o pessoal que vai fazer o DVD
comigo. Desses, a maisproxima eh a Kaltrina. Nascida no Kosovo, morou
n Libia por 8 anos e agora mora aqui ha 8, ta sempre falando dos
amigos e da familia e do namorado e de muitas coisas. Eh basicamente
com essas pessoas que eu passo o tempo. Nao muito tempo, porque, a
maior parte dele, passo sozinha. O que tem sido bem interessante, pra
ser sincera. Ja me suporto ha tempos, to passando a realmente gostar
de estar em minha companhia.

Como tu ressaltou, eu realmente nao gosto da Martha Medeiros (na
verdade eu ODEIO ela... mas tu, sempre doce, amenzou um pouquinho).
Contudo, quando eu li o "Embarquei minha filha" ja comecei a chorar
desesperadamente. Isso porque eu fiquei imaginando a tua situacao ai.
Como tu es corajosa, mae. Embarcar a tua filha pra um lugar onde tu
nunca esteve, pra fazer uma coisa que, por mais que tu tente, nunca
vai entender, pra viver uma vida que ninguem nunca a ensinou a viver.
Eu tenho orgulho de ti.

Por causa desse orgulho que eu sacudo a manta na rua todos os dias.
Porque eu sei que ai em casa tem gente muito feliz com o que eu to
aprendendo aqui. Porque eu sei quanto sacrificio todas essas
experiencias maravilhosas que eu to vivendo custa pra voces. Porque eu
sei que as minhas lagrimas e saudades logo serao curadas e que o que
vai sobrar eh tudo isso, tudo o que voces me deixaram viver quando me
embarcaram naquele aviao.

O que eu mais queria agora era poder sair do quarto, atravessar
aquelas duas portas de maderia escura, o pequeno corredor e me atirar
na cama de voces novamente. Mas eu sei que em 5 meses (4 meses e 26
dias) eu vou poder fazer isso denovo. O que eu nao vou poder fazer
denovo eh aprender a fazer a a minha propria canja, a enjoar do cheiro
de cebola nas maos, a lavar a propria roupa, a poupar os pounds pro
aluguel...

Sobre o titulo desse email que tu me mandou, "saudades", eu digo pra
voces fazerem o que eu tenho feito: respirem fundo, levantem a cabeca
e nao contem o tempo por segundos, minutos e horas, mas sim, por
aprendizados, tropecos e desafios superados. Parece muito mais longo,
mas passa tao mais rapido.

Um pouco antes de vir, lembra que eu fui naquele show do Los Hermanos?
Teve uma musica que me fez chorar muito e ela diz assim (eu botei em
prosa agora):

"Já vou, será? Eu quero ver o mundo, eu sei, não é esse lá. Por onde
andar? Eu começo por onde a estrada vai...E nao culpo a cidade, o pai:
vou lá, andar. E o que eu vou ver? Eu sei lá. Não faz disso esse drama
essa dor! Eh que a sorte é preciso tirar pra ter. Perigo é eu me
esconder em você. E quando eu vou voltar, quem vai saber? Se alguem
numa curva me convidar, eu vou lá, que andar é reconhecer, olhar. Eu
preciso andar um caminho só. Vou buscar alguém que eu nem sei quem
sou. Eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você.
Guarde um sonho bom pra mim. Eu preciso andar um caminho só. Vou
buscar alguém que eu nem sei quem sou."

Pra terminar esse e-mail, eu escolho outra musica do Los Hermanos,
essa chamada "Dois Barcos".

"Quando bater primeira dobra do mar da de la bandeira qualquer, aponta
pra fe e rema."

Amo voces. Eu vejo o que deixei ao partir em breve. Voces veem o que
deixaram levar... nunca mais. Mas isso eh bom, quando eu voltar, o
"eu" que voltar vai valer as lagrimas que tu derruba agora. Obrigada.

Fe

Thursday, January 25, 2007

O dia em que quebraram os saleiros

Ou

Estao chovendo diamantes pela cidade

Picture yourself on a bed by the window with marshmallow trees and sweet cotton skies. Something calls you, you look quite slowly, nobody… just diamonds eyes. Cellophane flowers in yellow and green only exist on your head. Look to the sky with no sun and the diamonds had fallen.

Eu estou passeando por ai, sem lugar pra ir. Londres eh… amavel. Eu ja atravesso as ruas sem medo, todo mundo sai do caminho eu sei, nao conheco ninguem pra dizer um “oi”. Eu sei que eles tem essa mania de manter o caminho livre, por isso eu estou sozinha em Londres, sem medo, mas nao posso evitar: fico vagando por ai, sem ter pra onde ir.

O domingo, a segunda… o inverno vai passando e as pessoas estao com pressa, mas tao em paz… Outro dia, um grupo se aproximou de um policial, ele parecia atencioso. Como eh bom viver. Eh bom viver em paz, entao, vou ficando. Como eles, eu escolho um ponto vazio para olhar. Escolho um nao-lugar. Eu estou aqui e pronto.

A grama verde, olhos azuis, o ceu cinza tudo desapareceu. Eu vim para dizer “sim”, e eh isso que eu digo.

Essa eh a historia de como eu acordei naquela terca-feira, 23 de Janeiro de 2007. A primeira vez que eu vi o chao de Londres coberto por sal e diamantes. God bless the pain and happiness wile I go looking for flying saucers in the sky.

Monday, January 22, 2007

A falta de inspiracao eh uma virtude

Ou

Ode a preguica

Eu tinha, para variar, horrores de ideias na cabeca e muitas coisas para contar, contudo, uma hora perdida (em muitos sentidos) caminhando em Westminster tirou toda a minha energia.

Fui, de repente, tomada pelo bichinho do “amanha eu faco”. Amanha eu estudo broadcasting, mas amanha eu tambem estudo pra apresentacao de quarta-feira, logo que eu lavar a roupa, cozinhar, tirar foto pra carteira de estudante, carregar os creditos do celular… ai que horror, quanta coisa para fazer amanha… Vou pensar no que fazer amanha amanha, porque essa historia de ficar pensando no amanha hoje ta me dando uma preguicaaaaaaaaaa…

Nem era tao importante o que eu tinha pra escrever mesmo… E outra: era tudo sobre o final de semana, que terminou ontem, e amanha vai acontecer mais coisa, entao, de que vale ficar escrevendo sobre o que passou? Principalmente se vai acontecer um monte de coisas denovo.

Eu tenho medo de dias que me sinto assim, como se nao valesse a pena fazer as coisas porque elas terao de ser repetidas no outro dia. Ainda bem que eu ja tomei banho e jantei. Imagina. Se comeca o dia dizendo “ah, nao vou levantar… de noite vou ter que deixar novamente. Ta, vou levantar, mas, arrumar a cama? Nem pensar!”

Escovar os dentes e tomar banho… que saco! Vou fazer tudo isso denovo mais tarde. Os dentes ainda sao quarto vezes ao dia! Quanta perda de tempo…

Finalmente se coloca a roupa e sai de casa. Pegar o tube para, em algumas horas, embarcar na direcao contraria. Ir para a aula, comer, respirar.

Chega, vou dormir. Amanha tem mais. Ah…

Friday, January 19, 2007

Rapidinhas

Eu tinha horrores de coisas pra escrever nesses ultimos dias, mas tava com preguica. Agora acumulou, portanto, como elas nao tem nenhuma relacao entre si, ai vao “por partes”. Ta em ordem crescente de relevancia, contrariando os ensinamentos textuais do professor Leonam, onde a primeira eh a menos importante e a ultima eh a mais. Afinal, voces tem que ler tudo, oras!

Para ingles ver

Enquanto voces reclamam do Faustao por ai, eu sigo achando que a tv aberta daqui eh uma porcaria em termos de conteudo. A programacao varia entre reality shows idiotas; jogos de esportes mortalmente boring como cricket, sinuca ou dardos; game shows para todas as habilidades, desde escolher a caixa certa no “Deal or no Deal” ate ser um expert na lingua inglesa em outros tantos; filmes muito antigos (bem mais antigos que os da sessao da tarde) e, por ultimo e mais importante: o Celebrity Big Brother!

Alias, o Celebrity Big Brother nao esta so no seu horario nobre todas as noites. Desde a semana passada ele esta nos periodicos impressos (os gratuitos e os nao-gratuitos), nos telejornais regionais e nacionais, e, principalmente, na boca do povo (e dos politicos ingleses). Nao se fala em outra coisa desde que uma atriz Bollywoodiana, Shilpa, foi vitma (ou nao, esse eh o debate) de racismo (sim, eh essa palavra que eles usam) durante o programa ao ser insultada por outras pessoas da casa. O blablabla foi tanto que autoridades indianas exigem pedidos de desculpas por parte do canal de tv que transmite o programa. Alias, ontem no noticiario desse canal (Channel 4) o apresentador entrevistou a secretaria da cultura inglesa a fim de saber o que deve ser ou sera feito a respeito. Na faculdade, no metro, nas esquinas… so se fala sobre isso. Eu me abstenho na maior parte do tempo.

As mulheres de Erico

Se bem me lembro das aulas do querido professor Bondan no segundo grau, Em “O tempo e o vento”, o tempo eram os homens e o vento, as mulheres. Se Erico Verissimo fosse vivo e morasse aqui em Londres, ele com certeza diria agora algo do tipo “E alem de tudo, estao de TPM, todas”.

Isso porque o tempo (meteorologico) da inglaterra anda mais bloddy crazy que nunca. Ta ventando tanto que ontem mostraram no telejornal um video feito por um celular (eu juro que quero muito comentar isso, e vou em outra oportunidade) de uma mulher sendo jogada pelo vento contra a parede de um predio no centro da cidade. As pessoas se agarravam aos postes, o servico de trem intermunicipal parou, algumas estacoes do tube ficaram sem funcionar (inclusive a minha da faculdade), as linahs que nao passam por debaixo da terra andavam ridiculamente devagar para os vagoes nao sairem dos trilhos… uma loucura.

Inclusive eu presenciei uma cena das mais bizarras. Estava no bar/refeitorio com algumas colegas quando simplesmente uma janela do salao explodiu. Assim, do nada. O suporte de madeira da janela nao suportou o vento e o vidro quebrou em mil pedacos em cima de duas gurias e um cara que estavam sentados na mesa de frente pra rua. Nao sei se eles se machucaram, nao deu pra ficar la. Imaginem que com a forca do vento que entrava pelo buraco formado, os pedacos de vidro voavam pelo refeitorio. Todo mundo bateu em retirada.

Especialistas analisam e sentenciam: (oh nao!) ou eh a maior crise te TPM em massa ja vista por aqui, ou sao ventos revoltados vindos da India....

O dia em que eu deixei de ser inglesa

Sim! Eu mal cheguei e ja deixei de ser inglesa. Nao to louca, explico.

Nesses dias de ferias eu estive aproveitando as ferias em si. Ficar sozinha, pensar, meu amigos dai, os novos amigos daqui. Logo que comecaram as aulas, eu entrei numas de “meu Deus! Muitas coisas pra fazer” e, por mais que eu lutasse contra, virei inglesa por uns dias. Comecei a corer pelo lado esquerdo da escada rolante, procurer emprego alucinadamente, me preocupar com a roupa pra lavar, a comida por fazer, as contas pra pagar. Virei inglesa.

Entao, na quarta-feira dessa semana, fui a uma entrevista de emprego. Era pra fazer frila de edicao de video. Eh uma agenciade criatividade que distribui designers, editores, criativos por ai.

Mas antes da entrevista, eu tive aula de European Media. Well, varios desafios:

1- Entender o que a professora dizia, ja que ela eh daquelas pessoas timidas que nao conseguem falar em publico e, portanto, falava quase pra dentro enquanto apertava o relogio de pulso que segurava com forca na mao direita;

2- Descobrir que ela estava falando da Uniao Europeia, sobre a qual eu nao sei quase nada e que, portanto, terei que estudar muito extra-classe;

3- Tentar nao surtar quando ela disse que na proxima aula eu tenho que apresentar 3 minutos sobre a midia em Portugal e que dia 14 de Fevereiro eu tenho uma apresentacao de 15 minutos valendo 40% da nota do semester sobre segmentacao na midia europeia. Sim, ainda sem sucesso.

Entao sai, atrasada e meio surtada, da aula e fui para a entrevista. Foi legal, fiz um teste facinho de edicao e assinei contrato. O que, honestamente, nao sei se queri dizer muita coisa, porque, como eu sou frila, dependo ainda de ter demanda de trabalho. Toca, telefone, toca…

Depois da entrevista, em Westminster, sai meio atordoada e dei de cara com o Big Ben. Foi esse o momento. Deixei de ser inglesa. Parei de corer e fiquei caminhando devagarinho na margem do Tamisa ate Embankment. Fui para a Waterloo Road, passeo pela Waterloo Bridge, continuei andando, sem destino ate a estacao de tube mais proxima de onde eu fui para Leicester Square encontrar o pessoal (Kika, Beto e Minna) pr air a um pub.

Desse dia em diante, deixei de ser londrina: nunca mais me acostumarei com essa cidade, ela eh bonita demais pra isso.

Sobre como eu devia (ou nao) ter usado protetor de orelhas nos ultimos dias

O vento londrino acabou com os meus neuronios. Entrou pelos ouvidos e baguncou tudo la dentro. Depois de uma semana de aulas em Westminster (como cansa aula em ingles, meu Deus!!!!), muitas coisas mudaram no que diz respeito ao “o que eu quero fazer da minha vida, oh ceus”.

Certezas sacudidas, verdades desmentidas, planos anulados, me deixarei levar pelo que acontece agora. Na disciplina de segunda-feira, descobri que eu ainda quero (muito) saber mais sobre essa tal midia de massa na qual eu tanto nao acredito. Na de quarta, tive certeza de que eu estou no lugar certo, no momento certo, pra acompanhar essas mudancas significativas no modo de comunicar.

Depois da aula de ontem, e, ainda bem, o professor nos liberou da aula de hoje (que eh a mesma) para pensarmos sobre os projetos que faremos durante o semester, tudo mudou. Voces ainda vao muito ouvir falar de producoes em multicamera, TV e como eu ja nao sei de mais nada, aguardem.

Projetos do semestre:

Na aula – fazer um dvd pra uma banda de rock, desde o cenario e a formulacao do formato e da composicao do conteudo ate a execucao de tudo isso; desenvolver, produzir, gravar e elaborar uma revista eletronica sobre musica. Sim.

Fora da aula – Descobrir o que eu quero fazer da vida. Muitas pistas. Poucas certezas.

All the way to Reno...

Monday, January 15, 2007

Are you the real thing? Even better than the real thing?

Prometi pra mim mesma que nao faria nenhuma comparacao entre a vida porto-alegrense e a estada londrina. Contudo, a vida eh cheia de quebras de contrato e, que tipo de brasileira seria eu se: 1 – nao reclamasse de meu proprio pais e 2 – honrasse a minha propria palavra (afinal, nem os nossos governantes o fazem). Entao pronto. Eis-me aqui, no bar do Harrow Campus, comparando estupidamente os habitos tupiniquins e britanicos.

Ai eu tinha escrito toda uma historia sobre o meu primeiro dia de aula famequiano, do qual eu me lembro muito bem, passo a passo, comparando as impressoes que eu tive de la com as de hoje. Mas ficou muito grande e massante, alem do que, todo mundo conhece a historia do meu primeiro dia de aula na FAMECOS, de como a Analu, entao com cabelo roxo, foi grossinha e tudo. Pula essa parte entao. Vamos direto as minhas impressoes sobre o primeiro dia de aula na University of Westminster.

Sai de casa duas horas antes do inicio da aula (que se daria as 10h). Isso porque eu moro em Leytonstone (leste da cidade) e a universidade eh em Harrow (noroeste), ou seja, lados opostos da capital. Peguei o tube lotado ate Liverpool Street, onde troquei da Central pra Metropolitan line. Tava tudo tao cheio que ate os polidos ingleses esqueciam o tradicional “I’m sorry” quando batiam uns nos outros.

Para a minha felicidade, a estacao a descer do trem fica dentro do campus, entao, nao precisei me perder. Depois de percorrido o longo caminho entre um verde campo e as casas de estudantes, cheguei a parte interior do predio.

Estranhamente, nao ha um saguao. Eh como um predio commercial, cheio de salas e paredes de vidro. O chao cinza e a luz cinza que vinha do ceu cinza formavam uma imagem demasiado monocromatica e fria pros meus padroes universitarios. Tambem nao havia alunos. Nem barulho. Nem vida.

Como era cedo (o metro levou so 1h ate la, entao eu estava bem adiantada), passei numa lojinha para comprar um caderno (que me salvou na aula depois) e subi a aula. Chegando a sala A4.14, me surpreendeu uma porta chaveada. Um minuto depois, um ruivo baixinho, gordinho, meio careca e de oculos chega cheio de equipamentos eletronicos na mao e uma mochila nas costas. Ele pergunta: “are you in this class” e emenda “the class will begin only at 10h30”.

Desci desconsertada pois ainda faltava uma hora para o entao inicio da aula e descobri o “bar/refeitorio”. Fechei os olhos tentando sentir a luz vermelha proveniente do neon vermelho da coca-cola a qual eu tanto estava acostumada. Ao invest disso, uma porta cinza se abriu e eu pude entrar no salao mais limpo e organizado que ja vi na vida. Chao de laminado maderia-clara, mesas na mesma cor com cadeiras acolchoadas e sinais de “esta mesa deve ser mantida limpa por voce” – surpreendentemente, todas impecaveis. No caixa, ao inves da diva do pop mundial, uma jovem de cabelo preso, bone e uniforme me pergunta o que eu quero. Entre as inumeras opcoes apresentadas, peco um cappuccino pequeno e uma agua sem gas. Tudo muito barato para os padroes londrinos. Sento a uma mesa vazia e comeco a escrever o que voce le agora. Quando levanto a cabeca, uns vinte minutes depois, vejo uma dezena de jovens com seus macbooks sentados e rindo, provavelmente contando aventuras do Holyday’s break.

Finalmente eh hora da aula. Entro na sala, ja uns 18 alunos sentados aguardam o comeco. Mentira. Ja UMAS 18 ALUNAS sentadas… Sim, so ha mulheres. Sento em uma mesa qualquer no fundo da sala. Explicacoes, bla bla bla…

Intervalo. Volto ao bar. Me falta ao ouvido a trilha do U2 com a locucao, ainda um pouco ruim que diz “Frequencia simulada…”. Procurando um lugar para sentar, um guri e uma guria, que eu tinha visto na aula, me chamam a acompanha-los. Feliz, descubro que sao Kathrina, do Kosovo e o germanico Tobey. Eles estudam regularmente em Westminster e devem ter sentido na pele, como eu, os olhares de estranhamento dos britanicos frente a um accent estranho. Conversamos, me apresentaram um chocolate germanico formidavel e voltamos a aula.

A aula foi uma experiencia formidavel. Primeiro porque eu entendi todas as palavras, o que me deu um alivio. Segundo porque ela sera sobre a evolucao do broadcasting (TV e Radio, principalmente) ao longo do seculo 20, bem como o desenvolvimento da sociedade de consume de massa, assunto EXTREMAMENTE util para mim no futuro, calculo. E, finalmente, porque teremos HORRORES de coisas para ler. So da primeira para a segunda aula sao 100 paginas (duplas) com mais 30 complementares. Haja viagem de tube!

Saturday, January 13, 2007

A velha historia do “quando a gente perde”

Ah pois eh. Tem uma hora que nao adianta. Pedidos de desculpas, verdades, dittos, nao-ditos. Qual eh o momento em que ja nao adianta mais nada? O que separa mais: a distancia ou o tempo?

O dia termina e a manha anterior ja parece bem mais colorida que a que esta por vir. Nostalgia ou somente o fato de termos pessimas memorias seletivas que insistem em nos pregar pecas, alguma coisa faz com que o que ja passou cause saudades e pareca bem melhor do que o que temos hoje.

Nao se engane, contudo. Geralmente essa vontade de que tudo aconteca denovo eh provocada por um legitimo reconhecimento de que o que passou, passou. Entao, a palavra nao dita, a attitude nao tomada, o tapa dado… isso tudo ja era, o negocio agora eh pensar pra frente.

Contudo, o que acontece se a vida da uma nova chance? Se a cena retorna, se podemos fazer novamente? Sera que a nossa natureza humana permitir que nossos cerebros tao mortais quanto comandem as acoes dessa vez?

Esses devaneios, quase obviedades, clichés, non-senses, bobagens, praticamente asneiras que eu resolve escrever hoje nao tem necessariamente ligacao com qualquer coisa que tenha acontecido/aconteca/venha a acontecer. Ou tem?

Impedida de pensar mais a respeito, prefiro seguir o que minha queria avo sempre diz: “so a morte nao tem volta, filha”. Entao ta, que assim seja. Quando eu voltar, tudo vai ser diferente. Mas nao era melhor antes?!?! Ai, minha cabeca.

Wednesday, January 10, 2007

Sobre olhos, pinturas renascentistas e ceus de baunilha

Ha um ponto na vida. Sim, ha varios. Mas falo de um em especifico, aquele no qual a gente para e pensa “eu vivi a minha vida inteira pra chegar aqui”. Nunca tinha acontecido comigo. A sensacao de que eh isso, se esta a frente do abismo, no cume da montanha russa, que depois disso, so resta descer e aproveitar o frio na barriga. Olhando ao redor, percebo que talvez seja isso. Ou nao. Talvez seja o comeco da subida ao topo.

Eu me lembro claramente de uma das unicas coisas que aprendi nas aulas de historia massantes do primeiro grau (porque as do Segundo, com o querido Professor Celso, eh que realmente me ensinaram alguma coisa). Mas isso que eu aprendi no primeiro grau, com uma professora muito chata da setima serie, eu nunca vou esquecer: depois do apogeu, vem a queda.

Isso ela me ensinou baseada nas historias de grandes civilizacoes ao longo da historia. Os romanos, os napoleonicos, os cristaos. Segundo a tal professora, depois da bonanca vem a tempestade. Ai, minha formacao catolica.

Ta, nao vou entrar numas de “ai, agora vai comecar a dar tudo errado” porque… porque nao vou. Contudo, insisto em desconfiar de tudo o que parece “perfeito”. Talvez por isso eu nao goste de pinturas renascentistas, ou herois do seculo XVII.. sao todos figuras perfeitas. Quem tem, afinal de contas, rosto tao belo? Pele tao macia? Olhos tao densos que parecem ser portadores de pensamentos tao nobres (ou tao escusos)?

Isso me lembra o “O show de Truman”. Filme genial, a proposito. Aquela realidade, aquele ceu azul, aquele sonho tao bem montado sobre uma viagem a Fiji que so poderia mesmo ser tao perfeito enquanto nao realizado. De fato, os sonhos so sao perfeitos porque sao sonhos.

Vi o “Abre los Ojos” hoje e cada vez mais me apego a realidade. Mas ela nao me doi, ela me eh muito boa. Nao como quando eu sonhava com ela, pela primeira vez, supera a criacao que eu tinha na mente antes de realmente vive-la. Estranho?

De fato, o “Abre los Ojos” eh bem melhor que o “Vanilla Sky”. Fiquei tentando imaginar o porque e achar isso e cheguei a conclusao: porque parece mais real. Nunca me agradaram ceus de baunilha, apesar de eu gostar muito do impressionismo do Van Gogh. Alias, lembro-me agora de outra coisa sobre a realidade. O professor Assis Brasil nos disse uma vez: “um livro eh bom quando ele eh mais real que a propria realidade”. Acho que eh isso. A realidade nunca nos parece tao real quanto a ficcao. Por isso que esses dias comentavamos, eu e uma amiga, sobre a decepcao que temos em relacao ao amor. Claro! O amor nao eh aquilo que nos ensinaram a vida inteira ser atraves de filmes, livros e novelas. O amor eh real. E como toda a realidade, tem problemas.

Chega, vou tomar a pilula azul e dormir. Boa noite.

Tuesday, January 09, 2007

Please, (don’t) mind the gap…

Toda vez que as portas do metro abrem e entre uma estacao e outra, uma voz feminina, levemente mecanizada pelo auto-falante, dotada de um leve sotaque britanico diz: “Please mind the gap between the train and the platform”. Nao sei se eh a media de 40 vezes que eu ouco isso por dia ou se foi a Guinnes, mas algo me fez ficar com essa frase na cabeca. Mind the gap.

O buraco, em teoria, pode se entendido como a ausencia de alguma coisa. Pode tambem acontecer de um buraco significar presence de algo, ja que eh preciso existir a coisa para que haja uma falha nela. Ainda, um buraco pode significar algo bom, poise le provoca a vontade de tapa-lo de alguma forma, as vezes, com algo melhor do que originalmente existia.

Eu gosto de enxergar a sociedade como um grande panetone (aproveitando que todo mundo ta com o … cheio disso por causa das festas de fim de ano), onde os ambientes seriam a massa e as pessoas, as frutas cristalizadas. Quando uma nojenta como eu tira a fruta do lugar, ou porque nao gosta, ou por qualquer outro motivo estupido, fica ali um buraco, uma marca de que aquela fruta esteve ali. Eh tambem assim com as pessoas. Quando alguem deixa (ou eh levado de) um grupo, ali fica uma falha, falta alguma coisa. Mas, o que acontece com a outra parte? Pra onde vao as frutas cristalizadas que sao grosseiramente removidas dos panetones da vida?

No meu caso, as frutas vao pra minha mae que as come com muita satisfacao, sem nunca, eh claro, deixar de fazer o comentario: “nao sabe o que ta perdendo, Fernanda, eh a melhor parte”.

Diego, amigoamadofilhodamae me fez chorar lendo o belo pequeno texto a seguir:

“Sinto falta da FêCris. Não sei bem o motivo, pois ela me irritava com certa freqüência. Desejava que sumisse, às vezes. E agora que ela me foge às vistas, uma das coisas que mais quero é ouvi-la discorrer sobre algum tema novamente. Sinto falta dos abraços sufocantes, das roupas que eu sempre criticava. É estranha essa saudade, porque a vejo disponível como um bonequinho verde(que apropriado!) neste instante, na tela do computador, mas prefiro não me revelar como um quadradinho que apita no canto direito do monitor. Eu que sempre preferi as palavras escritas, me estranho. Queria tocá-la, fuçar no cabelo, pegar na mãozinha. Nada sexual, acreditem. Só sentir por perto, mesmo. Tenho medo que ela não volte, ou volte diferente. Não quero que ela faça novos amigos, sinceramente. Tenho medo de me acostumar com a ausência dela também. Mas vou continuar pensando o que sempre me tranca algum choro saudosista, bobo, persistente: ‘ela vai voltar, cara!’. Desta vez não funcionou, mas vou continuar tentando.”

Isso me fez pensar sobre o panetone que eu deixei pra tras e todas essas frutas cristalizadas (ta, ta ridiculo, eu sei) que me fazem tanta falta. O que eu mais queria era poder ter trazido todos juntos, mas nao da. Por mais que eu faca amigos por aqui, obviamente nao sera como ai. O meu lugar ta marcado, o buraco ta feito, ninguem pode ocupar e nem eu tenho a intencao de abandona-lo. Mesmo a distancia, sei que as coisas em Porto correm normalmente. Aqui, eh tudo novo, pessoas novas, habitos novos. Terminando a pieguice: confio plenamente que, quando voltar, por mais que tudo tiver mudado, nada vai ser diferente. Ponto.

Por isso, nao se preocupem com o buraco. Logo logo eu volto pra molda-lo novamente.

Baby, you can drive my car - ou - Sobre como eu tenho desobedecido o Diego

Pois ontem foi dia de encontros academicos. Os primeiros na casa nova, fui bem apreensiva. Pra quem nao lembra, quando eu chego num lugar novo, faco o estilo misteriosa, quieta, timida… a esquisita com um copo de café tapando da boca ao nariz. Atrasada, sentei ao lado de umas americanas muito sem graca e assisti a palestra sobre como funciona a universidade e outras coisas.

A “outras coisas” foi, naturalmente, a parte mais engracada. Ganhei conselhos como: “tenha sempre um numero chamado ice no seu celular, para a pessoa que te achar nesse estado saber pra quem ligar”; “mantenha suas coisas sempre consigo”; “em caso de um ataque terrorista, ligue seus pais e nos mande um e-mail para avisar que voce esta bem”…

Um aspecto interessante da University of Westminster eh o quanto eles gostam de estimular atividades “extra curriculares”. Depois das apresentacoes todas, foram anunciados varios eventos estranhos dos quais a gente pode participar. Dia 19 tem uma festa num barco no Tamisa (u-au) e durante toda a semana coisas como festas com o tema “Jack the Ripper”, passeios no mundo magico dos Beatles (sim, esse eh o nome) e visitas mais interessantes a museus e estudios da BBC (para a qual eu me inscrevi, eh claro).

Ainda falando de ontem, o pessoal do International Office organizou uma festa de boas vindas na republica de um dos campi. O convite que ganhamos pra festa era tambem um volcher que dava direito a um “compre um leve dois” de bebida. Agora pensem: um monte de americanos, alguns mexicanos, poucos brasileiros, finlandeses, franceses, alemaes… todos juntos num barzinho com cupons de bebida dupla. Hummmm Consegui identificar alguns aspectos interessantes das diferentes culturas mundiais.

Os norte-americanos, todos muito bebados, se dividiam entre os que competiam seriamente contra os asiaticos na sinuca; as mulheres bebadas me chamando de “ho Brazil… how nice is your country!” – apesar de nao o conhecerem – e as pessoas mais sensatas que passaram a festa toda se desculpando por terem votado nao uma mas duas vezes no Bush.

Os mexicanos, todos um tanto bebados, formavam uma mesa na qual basicamente falavam mal dos norteamericanos que tinham votado no Bush. Gente muiro legal.

Os franceses, beeeem bebados, se dividiam em: mulheres absurdamente bebadas que se esfregavam (mesmo) nos norteamericanos que competiam seriamente contra os asiaticos na sinuca e homens que eu nao vi a festa inteira.

Uma mesa no canto concentrava os alemaes, controladamente bebados, que preferiam nao se misturar com as outras pessoas, afinal, o que essas mulheres do International Office pensavam estar fazendo ao juntar todo mundo daquela maneira como se fossem iguais.

Os brasileiros (for a eu), consideravelmente alcoolizados, se dividiam entre um cara que ficava andando pra la e pra ca com um copo na mao, percorrendo todos os grupos; um outro cara que tentava desesperadamente ficar com todas as mulheres da festa na base do papo e uma guria que ficava rindo desse ultimo.

Finalmente, tinha tambem o grupo dos avulsos que, como eu, nao se encaixavam em nenhum grupo e, portanto, observavam e riam disso tudo. Foi assim que eu fiquei amiga (calma gente) de uma finlandesa muito legal chamada Minna que gosta de muitas bandas esquisitas e se encaixaria perfeitamente no perfil famequiano de comportamento social. Combinamos ver algumas bandas esquisitas duante o semestre. Tambem nos duas encontramos uma americana muito legal que deixou sua namorada back in the US pra curtir a vida no velho continente. Ela tambem, com alguns ajustes de figurino, adoraria uma Pulp Friction no Ocidente.

Duas Guinnes e uma Sol depois, peguei o bus, depois o tube e depois outro tube pensando muito (e devagar) sobre as coisas. Descobri que eu nao quero mais ter que dirigir, pois voltar das festas de metro sem ter que se preocupar com estacionamento, transito, nao beber…) eh a melhor coisa; que os jovens ingleses bebados no Tube sao muito engracados e, finalmente, que os azulejos da Bond Street Station parecem muito se mexer…

Sunday, January 07, 2007

Experiencias zoologicas

Alguem disse um dia que, em uma Guerra, eh preciso mais que conhecer o inimigo: eh preciso sentir o inimigo. No silencio, qualquer pequeno ruido diferente da respiracao do aliado deve ser levado como o sinal de que o ataque esta proximo. Foi assim que descobrimos a sua existencia.

Pensavamos viver em um mundo pacifico, longed as agitacoes do centro de Londres. Leytonstone eh um bairro cheio de gente de tudo que eh origem ou credo, de judeus a mucumanos; espanhois a indianos. Contudo, havia uma raca que desconheciamos, aquela sobre a qual mostrariamos a nossa soberania naquela calma noite de domingo.

Ouvi o primeiro sinal. Passos apressados muito perto do nosso territorio, perto demais para nao armarmos o ataque. Um dos oficiais prepara as armas. Agora seria so esperar que o invasor caisse na armadilha.

Mais cedo que esperavamos, um movimento estranho. Ele caiu. Todos se agitam, mal podem acreditar na propria eficiencia. Correria para efetuar corretamente a operacao, apos reconhecer que era mesmo o inimigo, um oficial o ergue como um trofeu e exclama: “pegamos o rato!”.

Agora eh esperar que nao haja retalhacao. Deus salve Leytonstone!

Melhor duas experiencias antropologicas na mao que um monte de pensamentos voando

Eu ia escrever horrores sobre as separacoes da vida e como a gente vai buscando nas pessoas algo que supra o nosso “excesso de independencia”, mas desisti. Nao to com espirito. Ate tava, mas tive um pequeno incidente com uma maquina de lavar, uma calca jeans e uma blusa branca (sim, eu sou megaburra) que me tirou totalmente a capacidade de filosofar.

Engracado, eh a primeira vez que eu fico irritada aqui, e eu nem to tao irritada assim. Imaginem que eu podia ter chutado a maquina de lavar, rasgado a blusa, posto fogo na calca jeans, me jogado na frente do tube… mas nao. Eu simplesmente coloquei as roupas brancas de molho e disse bem baixinho “que droga”. Eh a polidez dos ingleses me afetando.

Alias, falando em polidez, eu tive sexta-feira a certeza absoluta de que eles sao todos uns psicoticos em potencial. Sexta-feira foi o dia de uma das maiores experiencias antropologicas (depois do tube) que se pode ter em Londres: fui num pub. Contudo, nao se enganem, nao era um pub superfamoso no centro e tal, era aqui mesmo em Leytonstone, chamava-se The Bell (sim, eu tambem pensei que podia ser uma filial do Bells – ali na Jose do Patrocinio – so que sem os famequianos). Vou tentar transmitir as imagens que eu vi. Usem a imaginacao para criar a cena a seguir.

“Uma casa antiga, daquelas que a gente encontra em bairros como Cidade Baixa ou Centro, com uma placa grande dizendo ‘The Bell’ e uma porta de madeira azul marinho com os dizeres ‘dogs not allowed’ abriga o pub. Ao entrar, uma boa impressao. Imaginem a casa da vo, com todos aqueles moveis velhos, carpetes e luzes amarelas. Poucos ingleses de meia idade parados educadamente em frente ao bar bebendo e falando sobre amenidades como o problema com os precos dos estacionamentos ou possiveis atentados terroristas no metro. Nota-se a direita um estranho equipamento que lembra aqueles dos djs que nas festas de aniversario em garagens nos anos 90, cheio de cds e discos. Contudo, algo a mais: uma tv.

O tempo de um chopp e meio depois (eles sao grandes aqui), grande mudanca. O DJ, tambem ele um ingles de meia-idade, anuncia o videoke e dai pra diante, vou pedir aos pacienciosos leitores que reconfigurem a cena.

Imaginem a festa de formatura de alguem de familia italiana. Tios e tias que beberam demais – em uma escala italiana de nivel alcoolico - dancando musicas de seu tempo como “Brown Sugar” ou simplesmente aquelas que ja nascem predestinadas a virar trilha sonora de eventos como esse – as da Shania Twain, por exemplo. Agora imagine que eles sao todos solteiros. Entao, a cena: solteiros de meia-idade bebados flertando e dancando ao som de Shania Twain, descontrolados como se alguem estivesse comemorando algo muito espetacular. Gira pra ca, gira pra la, depois de meia hora assim ja estao todos com os rostos vermelhos, sem metade das roupas com as quais entraram, tocando guitarras inflaveis e disputando o microfone do videoke.”

Agora voces entendem porque eles sao todos como as bombas amarradas nos corpos dos mucumanos que eles tanto temem, apenas esperando a oportunidade de explodir no meio de um monte de gente?

Bem, mas eh evidente que eu nao fui ao pub apenas para experimentar essa divertidissima experiencia antropologica de observer ingleses bebados de meia-idade (apesar de que ja valeria a noite). O caso eh que um dos guris aqui de casa, o Guilherme, saiu para uma viagem pela Europa (aiiii que nojo…), entao fomos la fazer a despedida. Uma ex-moradora aqui de Leytonstone, a espanhola Esti, foi tambem, o que fez com que a noite toda o idioma de comunicacao usado fosse o ingles – ah, eu tambem fico revoltadissima que 4 latinos conversem em um idioma nao latino, mas fazer o que se o Brasil eh o “no contra” da latinoamerica – fato que me deixou bem feliz, pra ser sincera, pois nao tinha passado tanto tempo conversando em ingles desde… desde um certo churrasco em um certo hostel de Montevideo…

Todos otimos. Me diverti horrores. Lembrancas de casa, queria que estivessem todos aqui. Mas eh bom fazer novos amigos.

Essa ida ao pub me rendeu o que eu acho que sera uma boa amizade e uma outra experiencia antropologia extremamente interessante: espanhois. Depois do pub, combinamos eu e a Esti de fazer alguma coisa no outro dia. Entao eu fui na casa dela, onde outros dois espanhois – um cara e uma guria – tambem foram. Ai, evidentemente, conversamos um pouco em ingles e um muito em espanhol – eu era minoria. E foi deveras divertido. Descobri que relacionamentos sao tao complicados aqui, como ai, como em qualquer lugar do mundo; que todo jovem de vinte e poucos anos (putz, o Fabio Junior) tem problemas com a relacao amor-sexo ( ai o Arnaldo Jabor e musica de novela) e que toda conversa iniciada em uma roda de bebedores de cerveja, em qualquer parte do globo, termina em putaria – o assunto, nao o ato – essa experiencia antropologica fica pra outro dia (or not).


Thursday, January 04, 2007

Aqui, ali, em qualquer lugar…

Tem coisas que nao adianta: sao iguais em todos os lugares do mundo. Mae, por exemplo. Aderindo ao cliché, mae eh tudo igual, so muda o endereco (e o idioma no qual ela diz “come direitinho, meu filho… e nao esquece de levar o casaquinho, hein?!”). Pois, a exemplo da velha, tem outras coisas que nao mudam nada.

Seguindo este exemplo, aqui, a televisao eh ruim (so que nao tem legenda), tem mendigo sim, e os pintores nas obras mexem com as mulheres na rua. Evidentemente, os pintores deveriam ser brasileiros, portanto, nao mudou mesmo.

Tem um programa aqui chamado “Celebrity Big Brother”. Nao, eu so li no jornal.

Alias, os jornais sao um capitulo a parte. Isso sim, a gente so ve por aqui. Tres jornais, ao menos que eu sei ate agora, sao distribuidos gratuitamente pela cidade. Em escala decrescente de nocao, tem o “London Paper”, o “Lite” e, finalmente, o “Metro”. O “London Paper” eh o unico que traz noticias de verdade, como a polemica dos precos dos estacionamentos para motos no centro, atentados terroristas e serial killers. Ah, um parenteses: (aqui eh tudo muito chique. As pessoas sao mortas ou por doencas causadas pelo stress – chilique de rico -; por atentados terroristas de destruicao em massa feitos para causar um impacto politico-economico-social nas grandes potencies capitalistas/cristas; pelos problemas psicologicos de sociopatas causados pela alta taxa de repressao sentimental ocasionada pelo excesso de polidez dos londrinos transformando-os em Serial Killers: ou, finalmente, pelos seus proprios problemas psicologicos causados pela alta taxa de repressao sentimental ocasionada pelo excesso de polidez dos londrinos que os fazem dar o mergulho da morte em frente a uma linha qualquer do metro, atrapalhando todo o fluxo de transported a cidade, atrasando a vida de um monte de gente, falta de consideracao e educacao, credo - ! – nem pra voltar e dizer “sorry”). Esses dias tinha uma materia dizendo que era evidente que mais um atentado terrorista estaria por vir e que as autoridades deveriam (ou nao) manter mais guardas armadas nas estacoes do Tube. Ao que uma autoridade local disse “Nos lamentamos muito o que aconteceu com o Jean Charles de Menezes, mas acontece que nos precisamos proteger a populacao” – ou quase isso.

O “Lite” eh particamente uma contigo diaria. Basicamente TV e celebridades, um luxo. Alias, a Kate Moss e o ex-libertine e a Lindsay Lohan sao os mais recorrentes, que coisa… Pelo menos nao eh a Fernanda Vasconcellos (a da novela, calmem), cansei da cara dela e gasta demais o meu nome, assim, pra uma qualquerzinha…

Tem tambem o “Metro”. Esse eh digno de torcer pr aver se pinga sangue, impressionante. Um homem foi esfaqueado na estacao do tube esses dias, nossa… Parece aqueles jornais que o Fabian mostra na aula (pros famequianos). Sou categorical ao afirmar definitivamente que (atencao para a manchete, larguem as canetas): O “Metro” eh o “ O Diarinho” de Londres!

O que nao da pra comparar, obviamente e (sem querer contudo sem conseguir) de modo extremamente piegas, sao as pessoas. Por mais que faca muito pouco tempo que eu nao veja os meus amigos e a minha familia, acho que a saudade vem de pensar que eu nao posso apenas gritar “paie, vem ca” ou ligar e dizer “E ai, estragada, onde a gente vai beber hoje? Vamos na pulp?”

Todavia, as pessoas daqui de casa sao muito bacanas. Obviamente nao tive tempo o bastante de conhece-las tanto, mas uma cozinha, alguma cerveja e muitas historias em comum ate as 3h da manha me deixaram tranquila, com a certeza de que aqui eu vou sim fazer novos amigos. Ai que papinho ridiculo, Fernanda…

A internet ajuda. Conversei com quase todo mundo pelo msn e foi legal. Nada como uma Nortena da Republica do Pastel ou um churrasco de domingo, mas, melhor que nada.

Sustento: tem coisas que nao mudam nunca, independente do lugar no qual a gente esteja. E, trocando uma coisa por outra e adaptando o Bono: “ With a satellite television (computer) you can go anywhere: Miami, New Orleans, London, Belfast and Berlin (ou, simplesmente, Porto Alegre).

Consideracoes finais:

O Seu Orkut eh muito malvado. Como sacudir um doce em frente a um diabetico, um cigarro pra um fumante, uma criancinha pra um padre ou uma mala de dinheiro pra um parlamentar. Ainda bem que eu ja estou em casa.

Sorte de hoje:
Em breve você passará momentos felizes em casa.

Tuesday, January 02, 2007

Have a nice staying

Trocou diversas vezes de cela. Todas iguais com um sem numero de pessoas frias enfileiradas em cadeiras. Pessoas que nem se olhavam, como bois que vao para o abate, simplesmente ali. A alimentacao era precaria. Bandejas padronizadas jogadas sobre pequenas mesas, traziam uma comida fria e sem gosto, quase intragavel, nao fosse a necessidade de que o fosse.

Finalmente libertada, ela andou por um longo corredor muito iluminado e entrou em um saguao onde formava-se uma fila. Cada vez que as pessoas comecavam a conversar, um negro, baixinho, ja marcado pelo tempo e pela luz que refletia no topo de sua cabeca, trocava a fila de posicao deixando claro que a comunicacao nao era bem-vinda por ali. A frente da fila, uma serie de pequenos balcoes escondiam alguem. Era um momento temido a todos, afinal, se esse alguem nao fosse convencido de que o sujeito merecia, mandava-o de volta a cela, para sempre. Chegou a vez dela. Nervosa, respondeu a todas as perguntas nos minimos detalhes. Enfim, “alguem” escreveu um amavel “six months” no cartao verde-oliva e disse: “Have a nice staying”.

A historia do dia em que Londres foi Lisboa

Ignorando o meu Vasconcellos, ja que aqui eu sou a Miss da Silva (com muito samba no pe e caipirinha na cabeca -?), permito-me o relato da historia do aeroporto de Heathrow, capital inglesa.

Jose Manuel Pereira era um visionario. Ouvindo falar de Sando Drumond, o paid a aviacao e seu patricio, logo pensou: “ora pa, mas ha de ter um lugaire para que essas pessoas possam pegaire os seus avioes. Vou inventaire logo uma estacao de trem para eles”. Assim, Pereira o fez.

Abismada com a invencao do portugues, a Rainha Mae pediu para que o inventor construisse a sua primeira obra magnifica aqui em Londres. Contudo, como naquela epoca so se vinha de barco para a grande ilha, a Rainha pediu que Jose Manuel explicasse tudo por carta, assim, os magnificos pedreiroslatinosimigrantesilegaisquefazemotrabalhosujodaeuropa poderiam construe-lo sozinhos. Eis a epistola:

“Ora pa senhora Rainha Maezinha,

Fico muito lisonjeado e feliz com o seu reconhecimento do meu trabalho. Entao estou a enviar a explicacao da maravilha tecnologica que eu estive a inventar.

Primeiro, o aviao deve pousaire em uma Estrada bem larga. Dipois, um corredor em forma de minhoca bem grande assim vai ate o aviao e pega as pessoas todas. Ai, as malas delas vao para outra sala onde sao carregadas por esteiras verticais, atencao eu disse verticais assim as malas ficam todas empilhadinhas, afinal, ninguem nesta terra tem menos altura que a Maria, minha mulher (1m 77 cm). Assim as malas tambem ficam longe do chao, bem limpinhas.

O pa, mas ninguem quer a ficaire carregando malas por ai a fora. Por isso, precisa ter uns carrinhos para que as pessoas possam por as bagagens. Esses carrinhos devem ser de um metal bem pesado e grosso, para duraire muito tempo e tambem rodas grandes, que proporcionem um andaire em diagonal as pessoas, porque o meu primo, Juaquim, me disse que a linha reta eh sempre o menor caminho entre dois pontos e o que eh uma diagonal senao uma linha reta, nao eh, Dona Rainha?

A gente tem que impedieire que os estrangeiros levem muitas coisas do nosso pais. Mas tambem nao pode cobraire imposto sobre as coisas que eles trouxeram. Entao, eu inventei, o pa, uma sala com um telephone vermelho. Nesta sala o visitante pega o telephone e diz:

Visitante - “ora pois, queria declaraire uns goods que trouxe da terrinha. Tenho aqui uns pasties de Santa Clara, umas garrafas de vinho do Porto e uns treis ou quarto quilos de bacalhau”. Is that okeie, o pa?”

Britanicadooutroladodalinha – “When did you buy your bacalhau, Sir Pereira?”

Visitante – “Ha umas two weeks ago, Senhora Dona Britanicadooutroladodalinha.”

Britanicadooutroladodalinha – “Okay, you can have it. Thank you”.

Senhora Dona Rainha. Acho que e basicamente isso. Tenho certeza que os seus pedreiroslatinosimigrantesilegaisquefazemotrabalhosujodaeuropaopa vao fazeire tudo bem direitinho. Obrigada mais uma vez pela oportunidade e ate logo.

Jose Manuel Pereira

P.s.: Me diserram que nos nunca poderemos tomaire um cha das cinco juntos porque os horarios sao diferentes aqui em Purtugal e ai em Londres. Podemos marcaire um cha das cinco uma hora mais cedo para que eu possa tambem participaire?

Assim, nasceu o aeroporto mais purtugueis da Inglaterra: Heathrow.

Foi, portanto, em terras portuguesas que eu pisei pela primeira vez aqui. Fui logo ao telefone publico ligar pra Kika e pro Caco (Nao, eu nao tenho uma amiga Kaka aqui. Sim, a Kuka ficou em Porto Alegre. Nao, eu nao ando falando miguxes, Arthur). Gastei todas as minhas moedas de euro falando “oipaitudobemvootranquilotoesperandoakikabeijoteamotchau”, portanto, tive que comprar um cartao para ligar.

Cheguei na casa de cambio e disse “Could you change my money for coins, please?”. No que a mulher prontamente respondeu: “voce quer fazer ligacao, eh, bichinha?”. A brasileira ja me ensinou a usar o cartao, disse o mais barato, como faz pra ficar mais barato ainda, uma beleza.

Mania de brasileiro, quase quebrei o bendito cartao tentando enfia-lo no buraquinho do telefone. Depois, descobri que ali vai o cartao de credito. O meu cartao servia pra eu ligar pra um 0800 (que tambem eh 0800 aqui) e atraves dele fazer a ligacao.

Com tanta tecnologia, achei a Kika base do “olho” mesmo no aeroporto de Londres. Foi la que eu descobri que a cidade eh extremamente suja, credo.

Encontros e desencontros depois, o primeiro dia do ano acabou com muita chuva e uma boa impressao do que viria a seguir. Conheci as fantasticas pessoas que moram aqui em casa sobre as quais eu nao vou falar, nao agora.

No dia dois, depois de exercitar meu senso de direcao procurando a Leytonstone Station, passeei com a Kika pela cidade. Eh podre de afude, ja diria a Estragada-chorosa, Analu. Soltei um sonoro “putaquepariuquemerda” quando vi o relogiao, e, sobre a Jubilee Bridge entendi porque tanta gente gosta tanto dessa cidade. Wile I go looking for flying saucers in the sky…

Em tempo:

Arthur: Bah, em 25 horas de viagem perdi, alem da paciencia e energia, tambem boa parte do cerebro, desculpa.

Cris: Amada… ta gelado, bem melhor que o calorao dai sim. Odeio pingar, eca! Hehe

Pellanda: Oi!!! Nao, eu nao vou voltar burra nao… Esnobe sim, obvio. O mapa que voces me deram ta sendo EXTREMAMENTE usado por aqui. Muito obrigada mesmo. Sem ele eu teria dado muitas voltas gratuitas. Me mandem noticias dai, voces tambem.

Camila: Eh que a tua faculdade tambem eh nos extrangeiro. La pras bandas de Saint Leopold.

“Maluquinha da TV” eh um gene muito recessivo que so se manifestou na minha familia, por enquanto. Me salvou boas horas e incomodacoes em Madrid.

Deia: Nao foi te despedir de mim!!! Sacana!

Tu sabe que eu nao vivo sem “tecnologias” n]e? Ta no chip que voces implantaram no meu cerebro quando eu entrei pra Cyber hehehe. Nao trouxe os sapatos de salto… NENHUM. To muito triste por isso, prefiro nao comentar. Querida… obrigada pela preocupacao e pela amizade. E eu vou te esperar, hein? Cadeirinha no pub e tudo!! Hahaha

Monday, January 01, 2007

Sobre( )voos, cliches e teclados sem acentos

Despedidas sao sempre despedidas. Por isso, nao vou me ater a elas, por enquanto.

Depois de um voo tranquilo entre Porto Alegre e Sao Paulo, do qual eu nao lembro muito bem, exceto do sanduiche quente e das pessoas aplaudindo no final, fui parar no salao do aeroporto de guarulhos.

A paulista me recebeu com chuva. Recebeu as (com crase) minhas malas da mesma forma, o que resultou em uma Fernanda enfurecida no balcao da TAM e a bagagem toda molhada.

Bendita hora que eu me enxi o saco das malas, afinal passaria perto de 7 horas no aeroporto, e fui fazer o check in. antes das 16h30, a fila ja tinha perto de 50 pessoas, sendo que o balcao so abria as 18h30. Resultado? Enfadonho demais pra relatar. A parte boa eh vencer a timidez. Conheci um bom punhado de gente nas 3 horas que passei na fila.

Gente!

Nessas horas, gente ate que eh legal. E tinha de tudo quanto era canto. O balcao ao lado, da air China, era a melhor diversao, brigas nipobrasileiras de 5 em 5 minutos, uma maravilha. Quase como se a gente pudesse pegar os personagens do Jaspion (mesmo japoneses) e tentasse faze-los viajar com o Jeca Tatu.

Coisas que eu vi (ou quase):

“Atencao, nao eh permitido o embarque para os EUA carregando isqueiros” Objetos pontiagudos, facas, revolveres e dolares em roupas intimas, no entanto, estao permitidos.

“Essa eh sua ultima chance de embarque para o Rio de Janeiro” Depois disso, soh serao permitidos passageiros rumo aos jogos panamericanos ou de guerra.

Voo a Madrid.

O pior café do mundo! Nao, mentira, Segundo pior. O pior café do mundo eh servido no red hostel, em Mondevideo. Ah, hispanohablantes… Alias, os espanhois sao mal educados mesmo ou eh o nosso “vale” que eh melhor?


Para mais uma chegada cliché, no aviao chegando em Madrid, tocavam musicas medievais europeias, aquelas dos filmes de cavaleiros, sabe?
No aeroporto de Madrid, ninguem faz nada sozinho. Para andar: esteiras (que nem nos Jetsons, como comentou um colega de voo). No banheiro, ate a descarga eh automatica (que susto!). O ambiente parece ser climatizado para cada pessoa, isso porque tinha algumas pessoas de regata e outras de casaco de pele. No saguao, de tudo: judeus ortodoxox dividem esteira com japoneses, coreanos, alemaes, argentinos (inconfundiveis), paraguaios, africanos de bata. Tudo muito cosmopolita, exceto pela casa de cambio que tem a maior fila do mundo e, enquanto se esta nela, uma pergunta (constante por toda a viagem em mim): “ingles ou espanhol”? Era eu uma portadora de passaporte verde-ovila na terra das touradas trocando uma nota que estampava a rainha por outra que tinha o mapa do velho mundo.

Aqui (Madrid), 11h. Resolvi ouvir radio FM.

107.5 - “standing outside the fire”
107.7 – algo muito bom. A radio chama-se RK20 (erre ca veinte)
108 – Hablamos de My Dream… (Radio Vina Flores)
88.6 – programa ensinando a fazer programas de radio
89 – “I can’t help falling in love with you”
91 – Europa FM. E o slogam: “eres lo que escuchas”. Tocava “gangsters paradise”.
99.5 – Maroon 5?!?!?! Ihhhhh
102.7 – “Welcome to the hotel California…”
103.9 – Go, Johnnny, Go…. Johnny: be good.
Aqui tambem tem ecos ridiculos e vozes metalizadas nas propagandas dos programas de radio. Bem feio.


Absurdo!!!!!!
Primeiro mundo que nada! O aeroporto de Madrid es la zona de la puta madre! Imaginem que nao ha avisos sonorous sobre os voos. Alem disso, ele eh tao grande que eh preciso pegar um trem para a travessa-lo. Sim. Tem um trem dentro do aeroporto! Como eu descobri isso? Porque trocaram o meu portao de embarque 10 minutos antes. Como eu descobri isso? Sendo a maluquinha da TV. Obrigada, dona Gisele, por mais esse ensinamento.

Nota: Criancas sabem ser insuportaveis em todos os idiomas. “Are we there yet, mommy?” de 5 em 5 minutos enquanto o meu banco era chutado, pisoteado e estapeado o voo todo. Ao menos aqui elas sabem ir ao banheiro do aviao sozinhas desde os tres anos de idade. Incrivel.

Cansada, musicas natalinas na decolagem me fazem lembrar da minha mae. Chorei. Repito as lagrimas agora quando escrevo neste bloco e assim o farei quando passa-las ao computador.
Agora, 14h05, horario local. Mais musicas medievais europeias e um sol incrivel que so estando sobas nuvens se pod ever por essas bandas me trazem a(com crase) capital inglesa. Se cima, entre as cabecas curiosas dos dois viajantes ao meu lado, vejo uma encantadora mistura de verdes campos e predios acinzentados.
Estou calma, hei de me diverter. Quase descubro de onde os viajantes sao, mas seus misteriosos passaportes nao tem o nome da patria-mae a (com crase) frente.
Encontrei outros brasileiros no voo. Perdidos… me sinto em casa.
Neste voo tudo o que ha para beber ou comer eh pago. Por isso, permaneco com fome e sede, sensacoes que vem e vao aos poucos, dependendo da minha ansiedade. Estamos mesmo pusando. Do que eu falava?

Nota: Aqui ninguem se entende e esse aviao eh o exemplo perfeito disso. Indianos, ingleses, holandeses, espanhois, brasileiros. Nessa Torre de Babel continental, me viro bem. Posso ter uma vantagem por ter 3 e arranhar um quarto idioma. Apesar de as pessoas daqui aparentemente nao ligarem, eh sempre bom ser “polite” e tentar falar o idioma do interlocutor. Nao espero a gentileza de volta.

Rodas no chao. Em Londres, 14h16min. Nove graus.