Tuesday, January 02, 2007

Have a nice staying

Trocou diversas vezes de cela. Todas iguais com um sem numero de pessoas frias enfileiradas em cadeiras. Pessoas que nem se olhavam, como bois que vao para o abate, simplesmente ali. A alimentacao era precaria. Bandejas padronizadas jogadas sobre pequenas mesas, traziam uma comida fria e sem gosto, quase intragavel, nao fosse a necessidade de que o fosse.

Finalmente libertada, ela andou por um longo corredor muito iluminado e entrou em um saguao onde formava-se uma fila. Cada vez que as pessoas comecavam a conversar, um negro, baixinho, ja marcado pelo tempo e pela luz que refletia no topo de sua cabeca, trocava a fila de posicao deixando claro que a comunicacao nao era bem-vinda por ali. A frente da fila, uma serie de pequenos balcoes escondiam alguem. Era um momento temido a todos, afinal, se esse alguem nao fosse convencido de que o sujeito merecia, mandava-o de volta a cela, para sempre. Chegou a vez dela. Nervosa, respondeu a todas as perguntas nos minimos detalhes. Enfim, “alguem” escreveu um amavel “six months” no cartao verde-oliva e disse: “Have a nice staying”.

A historia do dia em que Londres foi Lisboa

Ignorando o meu Vasconcellos, ja que aqui eu sou a Miss da Silva (com muito samba no pe e caipirinha na cabeca -?), permito-me o relato da historia do aeroporto de Heathrow, capital inglesa.

Jose Manuel Pereira era um visionario. Ouvindo falar de Sando Drumond, o paid a aviacao e seu patricio, logo pensou: “ora pa, mas ha de ter um lugaire para que essas pessoas possam pegaire os seus avioes. Vou inventaire logo uma estacao de trem para eles”. Assim, Pereira o fez.

Abismada com a invencao do portugues, a Rainha Mae pediu para que o inventor construisse a sua primeira obra magnifica aqui em Londres. Contudo, como naquela epoca so se vinha de barco para a grande ilha, a Rainha pediu que Jose Manuel explicasse tudo por carta, assim, os magnificos pedreiroslatinosimigrantesilegaisquefazemotrabalhosujodaeuropa poderiam construe-lo sozinhos. Eis a epistola:

“Ora pa senhora Rainha Maezinha,

Fico muito lisonjeado e feliz com o seu reconhecimento do meu trabalho. Entao estou a enviar a explicacao da maravilha tecnologica que eu estive a inventar.

Primeiro, o aviao deve pousaire em uma Estrada bem larga. Dipois, um corredor em forma de minhoca bem grande assim vai ate o aviao e pega as pessoas todas. Ai, as malas delas vao para outra sala onde sao carregadas por esteiras verticais, atencao eu disse verticais assim as malas ficam todas empilhadinhas, afinal, ninguem nesta terra tem menos altura que a Maria, minha mulher (1m 77 cm). Assim as malas tambem ficam longe do chao, bem limpinhas.

O pa, mas ninguem quer a ficaire carregando malas por ai a fora. Por isso, precisa ter uns carrinhos para que as pessoas possam por as bagagens. Esses carrinhos devem ser de um metal bem pesado e grosso, para duraire muito tempo e tambem rodas grandes, que proporcionem um andaire em diagonal as pessoas, porque o meu primo, Juaquim, me disse que a linha reta eh sempre o menor caminho entre dois pontos e o que eh uma diagonal senao uma linha reta, nao eh, Dona Rainha?

A gente tem que impedieire que os estrangeiros levem muitas coisas do nosso pais. Mas tambem nao pode cobraire imposto sobre as coisas que eles trouxeram. Entao, eu inventei, o pa, uma sala com um telephone vermelho. Nesta sala o visitante pega o telephone e diz:

Visitante - “ora pois, queria declaraire uns goods que trouxe da terrinha. Tenho aqui uns pasties de Santa Clara, umas garrafas de vinho do Porto e uns treis ou quarto quilos de bacalhau”. Is that okeie, o pa?”

Britanicadooutroladodalinha – “When did you buy your bacalhau, Sir Pereira?”

Visitante – “Ha umas two weeks ago, Senhora Dona Britanicadooutroladodalinha.”

Britanicadooutroladodalinha – “Okay, you can have it. Thank you”.

Senhora Dona Rainha. Acho que e basicamente isso. Tenho certeza que os seus pedreiroslatinosimigrantesilegaisquefazemotrabalhosujodaeuropaopa vao fazeire tudo bem direitinho. Obrigada mais uma vez pela oportunidade e ate logo.

Jose Manuel Pereira

P.s.: Me diserram que nos nunca poderemos tomaire um cha das cinco juntos porque os horarios sao diferentes aqui em Purtugal e ai em Londres. Podemos marcaire um cha das cinco uma hora mais cedo para que eu possa tambem participaire?

Assim, nasceu o aeroporto mais purtugueis da Inglaterra: Heathrow.

Foi, portanto, em terras portuguesas que eu pisei pela primeira vez aqui. Fui logo ao telefone publico ligar pra Kika e pro Caco (Nao, eu nao tenho uma amiga Kaka aqui. Sim, a Kuka ficou em Porto Alegre. Nao, eu nao ando falando miguxes, Arthur). Gastei todas as minhas moedas de euro falando “oipaitudobemvootranquilotoesperandoakikabeijoteamotchau”, portanto, tive que comprar um cartao para ligar.

Cheguei na casa de cambio e disse “Could you change my money for coins, please?”. No que a mulher prontamente respondeu: “voce quer fazer ligacao, eh, bichinha?”. A brasileira ja me ensinou a usar o cartao, disse o mais barato, como faz pra ficar mais barato ainda, uma beleza.

Mania de brasileiro, quase quebrei o bendito cartao tentando enfia-lo no buraquinho do telefone. Depois, descobri que ali vai o cartao de credito. O meu cartao servia pra eu ligar pra um 0800 (que tambem eh 0800 aqui) e atraves dele fazer a ligacao.

Com tanta tecnologia, achei a Kika base do “olho” mesmo no aeroporto de Londres. Foi la que eu descobri que a cidade eh extremamente suja, credo.

Encontros e desencontros depois, o primeiro dia do ano acabou com muita chuva e uma boa impressao do que viria a seguir. Conheci as fantasticas pessoas que moram aqui em casa sobre as quais eu nao vou falar, nao agora.

No dia dois, depois de exercitar meu senso de direcao procurando a Leytonstone Station, passeei com a Kika pela cidade. Eh podre de afude, ja diria a Estragada-chorosa, Analu. Soltei um sonoro “putaquepariuquemerda” quando vi o relogiao, e, sobre a Jubilee Bridge entendi porque tanta gente gosta tanto dessa cidade. Wile I go looking for flying saucers in the sky…

Em tempo:

Arthur: Bah, em 25 horas de viagem perdi, alem da paciencia e energia, tambem boa parte do cerebro, desculpa.

Cris: Amada… ta gelado, bem melhor que o calorao dai sim. Odeio pingar, eca! Hehe

Pellanda: Oi!!! Nao, eu nao vou voltar burra nao… Esnobe sim, obvio. O mapa que voces me deram ta sendo EXTREMAMENTE usado por aqui. Muito obrigada mesmo. Sem ele eu teria dado muitas voltas gratuitas. Me mandem noticias dai, voces tambem.

Camila: Eh que a tua faculdade tambem eh nos extrangeiro. La pras bandas de Saint Leopold.

“Maluquinha da TV” eh um gene muito recessivo que so se manifestou na minha familia, por enquanto. Me salvou boas horas e incomodacoes em Madrid.

Deia: Nao foi te despedir de mim!!! Sacana!

Tu sabe que eu nao vivo sem “tecnologias” n]e? Ta no chip que voces implantaram no meu cerebro quando eu entrei pra Cyber hehehe. Nao trouxe os sapatos de salto… NENHUM. To muito triste por isso, prefiro nao comentar. Querida… obrigada pela preocupacao e pela amizade. E eu vou te esperar, hein? Cadeirinha no pub e tudo!! Hahaha

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