Tuesday, January 09, 2007

Please, (don’t) mind the gap…

Toda vez que as portas do metro abrem e entre uma estacao e outra, uma voz feminina, levemente mecanizada pelo auto-falante, dotada de um leve sotaque britanico diz: “Please mind the gap between the train and the platform”. Nao sei se eh a media de 40 vezes que eu ouco isso por dia ou se foi a Guinnes, mas algo me fez ficar com essa frase na cabeca. Mind the gap.

O buraco, em teoria, pode se entendido como a ausencia de alguma coisa. Pode tambem acontecer de um buraco significar presence de algo, ja que eh preciso existir a coisa para que haja uma falha nela. Ainda, um buraco pode significar algo bom, poise le provoca a vontade de tapa-lo de alguma forma, as vezes, com algo melhor do que originalmente existia.

Eu gosto de enxergar a sociedade como um grande panetone (aproveitando que todo mundo ta com o … cheio disso por causa das festas de fim de ano), onde os ambientes seriam a massa e as pessoas, as frutas cristalizadas. Quando uma nojenta como eu tira a fruta do lugar, ou porque nao gosta, ou por qualquer outro motivo estupido, fica ali um buraco, uma marca de que aquela fruta esteve ali. Eh tambem assim com as pessoas. Quando alguem deixa (ou eh levado de) um grupo, ali fica uma falha, falta alguma coisa. Mas, o que acontece com a outra parte? Pra onde vao as frutas cristalizadas que sao grosseiramente removidas dos panetones da vida?

No meu caso, as frutas vao pra minha mae que as come com muita satisfacao, sem nunca, eh claro, deixar de fazer o comentario: “nao sabe o que ta perdendo, Fernanda, eh a melhor parte”.

Diego, amigoamadofilhodamae me fez chorar lendo o belo pequeno texto a seguir:

“Sinto falta da FêCris. Não sei bem o motivo, pois ela me irritava com certa freqüência. Desejava que sumisse, às vezes. E agora que ela me foge às vistas, uma das coisas que mais quero é ouvi-la discorrer sobre algum tema novamente. Sinto falta dos abraços sufocantes, das roupas que eu sempre criticava. É estranha essa saudade, porque a vejo disponível como um bonequinho verde(que apropriado!) neste instante, na tela do computador, mas prefiro não me revelar como um quadradinho que apita no canto direito do monitor. Eu que sempre preferi as palavras escritas, me estranho. Queria tocá-la, fuçar no cabelo, pegar na mãozinha. Nada sexual, acreditem. Só sentir por perto, mesmo. Tenho medo que ela não volte, ou volte diferente. Não quero que ela faça novos amigos, sinceramente. Tenho medo de me acostumar com a ausência dela também. Mas vou continuar pensando o que sempre me tranca algum choro saudosista, bobo, persistente: ‘ela vai voltar, cara!’. Desta vez não funcionou, mas vou continuar tentando.”

Isso me fez pensar sobre o panetone que eu deixei pra tras e todas essas frutas cristalizadas (ta, ta ridiculo, eu sei) que me fazem tanta falta. O que eu mais queria era poder ter trazido todos juntos, mas nao da. Por mais que eu faca amigos por aqui, obviamente nao sera como ai. O meu lugar ta marcado, o buraco ta feito, ninguem pode ocupar e nem eu tenho a intencao de abandona-lo. Mesmo a distancia, sei que as coisas em Porto correm normalmente. Aqui, eh tudo novo, pessoas novas, habitos novos. Terminando a pieguice: confio plenamente que, quando voltar, por mais que tudo tiver mudado, nada vai ser diferente. Ponto.

Por isso, nao se preocupem com o buraco. Logo logo eu volto pra molda-lo novamente.

Baby, you can drive my car - ou - Sobre como eu tenho desobedecido o Diego

Pois ontem foi dia de encontros academicos. Os primeiros na casa nova, fui bem apreensiva. Pra quem nao lembra, quando eu chego num lugar novo, faco o estilo misteriosa, quieta, timida… a esquisita com um copo de café tapando da boca ao nariz. Atrasada, sentei ao lado de umas americanas muito sem graca e assisti a palestra sobre como funciona a universidade e outras coisas.

A “outras coisas” foi, naturalmente, a parte mais engracada. Ganhei conselhos como: “tenha sempre um numero chamado ice no seu celular, para a pessoa que te achar nesse estado saber pra quem ligar”; “mantenha suas coisas sempre consigo”; “em caso de um ataque terrorista, ligue seus pais e nos mande um e-mail para avisar que voce esta bem”…

Um aspecto interessante da University of Westminster eh o quanto eles gostam de estimular atividades “extra curriculares”. Depois das apresentacoes todas, foram anunciados varios eventos estranhos dos quais a gente pode participar. Dia 19 tem uma festa num barco no Tamisa (u-au) e durante toda a semana coisas como festas com o tema “Jack the Ripper”, passeios no mundo magico dos Beatles (sim, esse eh o nome) e visitas mais interessantes a museus e estudios da BBC (para a qual eu me inscrevi, eh claro).

Ainda falando de ontem, o pessoal do International Office organizou uma festa de boas vindas na republica de um dos campi. O convite que ganhamos pra festa era tambem um volcher que dava direito a um “compre um leve dois” de bebida. Agora pensem: um monte de americanos, alguns mexicanos, poucos brasileiros, finlandeses, franceses, alemaes… todos juntos num barzinho com cupons de bebida dupla. Hummmm Consegui identificar alguns aspectos interessantes das diferentes culturas mundiais.

Os norte-americanos, todos muito bebados, se dividiam entre os que competiam seriamente contra os asiaticos na sinuca; as mulheres bebadas me chamando de “ho Brazil… how nice is your country!” – apesar de nao o conhecerem – e as pessoas mais sensatas que passaram a festa toda se desculpando por terem votado nao uma mas duas vezes no Bush.

Os mexicanos, todos um tanto bebados, formavam uma mesa na qual basicamente falavam mal dos norteamericanos que tinham votado no Bush. Gente muiro legal.

Os franceses, beeeem bebados, se dividiam em: mulheres absurdamente bebadas que se esfregavam (mesmo) nos norteamericanos que competiam seriamente contra os asiaticos na sinuca e homens que eu nao vi a festa inteira.

Uma mesa no canto concentrava os alemaes, controladamente bebados, que preferiam nao se misturar com as outras pessoas, afinal, o que essas mulheres do International Office pensavam estar fazendo ao juntar todo mundo daquela maneira como se fossem iguais.

Os brasileiros (for a eu), consideravelmente alcoolizados, se dividiam entre um cara que ficava andando pra la e pra ca com um copo na mao, percorrendo todos os grupos; um outro cara que tentava desesperadamente ficar com todas as mulheres da festa na base do papo e uma guria que ficava rindo desse ultimo.

Finalmente, tinha tambem o grupo dos avulsos que, como eu, nao se encaixavam em nenhum grupo e, portanto, observavam e riam disso tudo. Foi assim que eu fiquei amiga (calma gente) de uma finlandesa muito legal chamada Minna que gosta de muitas bandas esquisitas e se encaixaria perfeitamente no perfil famequiano de comportamento social. Combinamos ver algumas bandas esquisitas duante o semestre. Tambem nos duas encontramos uma americana muito legal que deixou sua namorada back in the US pra curtir a vida no velho continente. Ela tambem, com alguns ajustes de figurino, adoraria uma Pulp Friction no Ocidente.

Duas Guinnes e uma Sol depois, peguei o bus, depois o tube e depois outro tube pensando muito (e devagar) sobre as coisas. Descobri que eu nao quero mais ter que dirigir, pois voltar das festas de metro sem ter que se preocupar com estacionamento, transito, nao beber…) eh a melhor coisa; que os jovens ingleses bebados no Tube sao muito engracados e, finalmente, que os azulejos da Bond Street Station parecem muito se mexer…

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