Wednesday, January 10, 2007

Sobre olhos, pinturas renascentistas e ceus de baunilha

Ha um ponto na vida. Sim, ha varios. Mas falo de um em especifico, aquele no qual a gente para e pensa “eu vivi a minha vida inteira pra chegar aqui”. Nunca tinha acontecido comigo. A sensacao de que eh isso, se esta a frente do abismo, no cume da montanha russa, que depois disso, so resta descer e aproveitar o frio na barriga. Olhando ao redor, percebo que talvez seja isso. Ou nao. Talvez seja o comeco da subida ao topo.

Eu me lembro claramente de uma das unicas coisas que aprendi nas aulas de historia massantes do primeiro grau (porque as do Segundo, com o querido Professor Celso, eh que realmente me ensinaram alguma coisa). Mas isso que eu aprendi no primeiro grau, com uma professora muito chata da setima serie, eu nunca vou esquecer: depois do apogeu, vem a queda.

Isso ela me ensinou baseada nas historias de grandes civilizacoes ao longo da historia. Os romanos, os napoleonicos, os cristaos. Segundo a tal professora, depois da bonanca vem a tempestade. Ai, minha formacao catolica.

Ta, nao vou entrar numas de “ai, agora vai comecar a dar tudo errado” porque… porque nao vou. Contudo, insisto em desconfiar de tudo o que parece “perfeito”. Talvez por isso eu nao goste de pinturas renascentistas, ou herois do seculo XVII.. sao todos figuras perfeitas. Quem tem, afinal de contas, rosto tao belo? Pele tao macia? Olhos tao densos que parecem ser portadores de pensamentos tao nobres (ou tao escusos)?

Isso me lembra o “O show de Truman”. Filme genial, a proposito. Aquela realidade, aquele ceu azul, aquele sonho tao bem montado sobre uma viagem a Fiji que so poderia mesmo ser tao perfeito enquanto nao realizado. De fato, os sonhos so sao perfeitos porque sao sonhos.

Vi o “Abre los Ojos” hoje e cada vez mais me apego a realidade. Mas ela nao me doi, ela me eh muito boa. Nao como quando eu sonhava com ela, pela primeira vez, supera a criacao que eu tinha na mente antes de realmente vive-la. Estranho?

De fato, o “Abre los Ojos” eh bem melhor que o “Vanilla Sky”. Fiquei tentando imaginar o porque e achar isso e cheguei a conclusao: porque parece mais real. Nunca me agradaram ceus de baunilha, apesar de eu gostar muito do impressionismo do Van Gogh. Alias, lembro-me agora de outra coisa sobre a realidade. O professor Assis Brasil nos disse uma vez: “um livro eh bom quando ele eh mais real que a propria realidade”. Acho que eh isso. A realidade nunca nos parece tao real quanto a ficcao. Por isso que esses dias comentavamos, eu e uma amiga, sobre a decepcao que temos em relacao ao amor. Claro! O amor nao eh aquilo que nos ensinaram a vida inteira ser atraves de filmes, livros e novelas. O amor eh real. E como toda a realidade, tem problemas.

Chega, vou tomar a pilula azul e dormir. Boa noite.

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