Sunday, January 07, 2007

Experiencias zoologicas

Alguem disse um dia que, em uma Guerra, eh preciso mais que conhecer o inimigo: eh preciso sentir o inimigo. No silencio, qualquer pequeno ruido diferente da respiracao do aliado deve ser levado como o sinal de que o ataque esta proximo. Foi assim que descobrimos a sua existencia.

Pensavamos viver em um mundo pacifico, longed as agitacoes do centro de Londres. Leytonstone eh um bairro cheio de gente de tudo que eh origem ou credo, de judeus a mucumanos; espanhois a indianos. Contudo, havia uma raca que desconheciamos, aquela sobre a qual mostrariamos a nossa soberania naquela calma noite de domingo.

Ouvi o primeiro sinal. Passos apressados muito perto do nosso territorio, perto demais para nao armarmos o ataque. Um dos oficiais prepara as armas. Agora seria so esperar que o invasor caisse na armadilha.

Mais cedo que esperavamos, um movimento estranho. Ele caiu. Todos se agitam, mal podem acreditar na propria eficiencia. Correria para efetuar corretamente a operacao, apos reconhecer que era mesmo o inimigo, um oficial o ergue como um trofeu e exclama: “pegamos o rato!”.

Agora eh esperar que nao haja retalhacao. Deus salve Leytonstone!

Melhor duas experiencias antropologicas na mao que um monte de pensamentos voando

Eu ia escrever horrores sobre as separacoes da vida e como a gente vai buscando nas pessoas algo que supra o nosso “excesso de independencia”, mas desisti. Nao to com espirito. Ate tava, mas tive um pequeno incidente com uma maquina de lavar, uma calca jeans e uma blusa branca (sim, eu sou megaburra) que me tirou totalmente a capacidade de filosofar.

Engracado, eh a primeira vez que eu fico irritada aqui, e eu nem to tao irritada assim. Imaginem que eu podia ter chutado a maquina de lavar, rasgado a blusa, posto fogo na calca jeans, me jogado na frente do tube… mas nao. Eu simplesmente coloquei as roupas brancas de molho e disse bem baixinho “que droga”. Eh a polidez dos ingleses me afetando.

Alias, falando em polidez, eu tive sexta-feira a certeza absoluta de que eles sao todos uns psicoticos em potencial. Sexta-feira foi o dia de uma das maiores experiencias antropologicas (depois do tube) que se pode ter em Londres: fui num pub. Contudo, nao se enganem, nao era um pub superfamoso no centro e tal, era aqui mesmo em Leytonstone, chamava-se The Bell (sim, eu tambem pensei que podia ser uma filial do Bells – ali na Jose do Patrocinio – so que sem os famequianos). Vou tentar transmitir as imagens que eu vi. Usem a imaginacao para criar a cena a seguir.

“Uma casa antiga, daquelas que a gente encontra em bairros como Cidade Baixa ou Centro, com uma placa grande dizendo ‘The Bell’ e uma porta de madeira azul marinho com os dizeres ‘dogs not allowed’ abriga o pub. Ao entrar, uma boa impressao. Imaginem a casa da vo, com todos aqueles moveis velhos, carpetes e luzes amarelas. Poucos ingleses de meia idade parados educadamente em frente ao bar bebendo e falando sobre amenidades como o problema com os precos dos estacionamentos ou possiveis atentados terroristas no metro. Nota-se a direita um estranho equipamento que lembra aqueles dos djs que nas festas de aniversario em garagens nos anos 90, cheio de cds e discos. Contudo, algo a mais: uma tv.

O tempo de um chopp e meio depois (eles sao grandes aqui), grande mudanca. O DJ, tambem ele um ingles de meia-idade, anuncia o videoke e dai pra diante, vou pedir aos pacienciosos leitores que reconfigurem a cena.

Imaginem a festa de formatura de alguem de familia italiana. Tios e tias que beberam demais – em uma escala italiana de nivel alcoolico - dancando musicas de seu tempo como “Brown Sugar” ou simplesmente aquelas que ja nascem predestinadas a virar trilha sonora de eventos como esse – as da Shania Twain, por exemplo. Agora imagine que eles sao todos solteiros. Entao, a cena: solteiros de meia-idade bebados flertando e dancando ao som de Shania Twain, descontrolados como se alguem estivesse comemorando algo muito espetacular. Gira pra ca, gira pra la, depois de meia hora assim ja estao todos com os rostos vermelhos, sem metade das roupas com as quais entraram, tocando guitarras inflaveis e disputando o microfone do videoke.”

Agora voces entendem porque eles sao todos como as bombas amarradas nos corpos dos mucumanos que eles tanto temem, apenas esperando a oportunidade de explodir no meio de um monte de gente?

Bem, mas eh evidente que eu nao fui ao pub apenas para experimentar essa divertidissima experiencia antropologica de observer ingleses bebados de meia-idade (apesar de que ja valeria a noite). O caso eh que um dos guris aqui de casa, o Guilherme, saiu para uma viagem pela Europa (aiiii que nojo…), entao fomos la fazer a despedida. Uma ex-moradora aqui de Leytonstone, a espanhola Esti, foi tambem, o que fez com que a noite toda o idioma de comunicacao usado fosse o ingles – ah, eu tambem fico revoltadissima que 4 latinos conversem em um idioma nao latino, mas fazer o que se o Brasil eh o “no contra” da latinoamerica – fato que me deixou bem feliz, pra ser sincera, pois nao tinha passado tanto tempo conversando em ingles desde… desde um certo churrasco em um certo hostel de Montevideo…

Todos otimos. Me diverti horrores. Lembrancas de casa, queria que estivessem todos aqui. Mas eh bom fazer novos amigos.

Essa ida ao pub me rendeu o que eu acho que sera uma boa amizade e uma outra experiencia antropologia extremamente interessante: espanhois. Depois do pub, combinamos eu e a Esti de fazer alguma coisa no outro dia. Entao eu fui na casa dela, onde outros dois espanhois – um cara e uma guria – tambem foram. Ai, evidentemente, conversamos um pouco em ingles e um muito em espanhol – eu era minoria. E foi deveras divertido. Descobri que relacionamentos sao tao complicados aqui, como ai, como em qualquer lugar do mundo; que todo jovem de vinte e poucos anos (putz, o Fabio Junior) tem problemas com a relacao amor-sexo ( ai o Arnaldo Jabor e musica de novela) e que toda conversa iniciada em uma roda de bebedores de cerveja, em qualquer parte do globo, termina em putaria – o assunto, nao o ato – essa experiencia antropologica fica pra outro dia (or not).


1 comment:

Cris said...

"Eu simplesmente coloquei as roupas brancas de molho e disse bem baixinho “que droga”. Eh a polidez dos ingleses me afetando."

Me deu vontade de rir!!!
Hahaha